Quando a “denúncia grave” é fake news

29/04/2020 20:11 - Blog do Celio Gomes
Por Redação
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Aos gritos, com uma papelada em mãos, a mulher nos informa que acaba de perder a mãe, uma senhora que morreu no Hospital Geral do Estado. Como se estivesse na pele de uma personagem, a mulher esbraveja contra o HGE. “Denuncia” que uma funcionária da unidade teria forjado o diagnóstico de Covid-19 – sabe-se lá por que razão. Essa “narrativa” está num vídeo que dura bem uns cinco minutos – ao menos na versão que recebi. É mais uma dessas “notícias” bombásticas que circulam via WhatsApp.

Tudo falso. Tudo mentira. Mais uma fake news, como aliás já noticiou o CADAMINUTO. É uma praga inescapável. É quase uma calamidade paralela à crise sanitária propriamente dita. As invencionices de todo o tipo que rodam de tela em tela têm diferentes fontes e motivações. Pode ser alguém completamente sem noção da vida, desocupado, que acha divertido tirar onda com o drama real.

A motivação nesse caso é a piada pela piada, digamos assim. E a fonte da fake news acha que não faz mal a ninguém ao espalhar falsidades sobre qualquer coisa. Se flagrado em suas investidas ilegais, certamente vestirá o figurino de vítima, além, é claro, de inocente quanto a qualquer acusação. Há muito de idiotia nessa prática de fraudar a realidade – o que, no fim, agride pessoas.

A senhora do vídeo que recebi (e que é notícia no CM) conta uma história fantasiosa – cabalmente desmentida pela direção do HGE. Não um desmentido retórico, mas com dados e informações concretas. Ao contrário do que “denuncia” a filha, ninguém no hospital disse que sua mãe teria sido vítima do novo coronavírus. Isso simplesmente nunca existiu, a não ser na encenação para o celular.

Ocorre que uma mentira tem potencial de estrago avassalador. E é muito mais animado acreditar na teoria da conspiração do que no andamento lógico e natural da vida. Por isso, mesmo que o receptor de uma mensagem como esse vídeo do HGE veja o esclarecimento oficial, preto no branco, ainda assim acalenta a fábula do absurdo. E nem se importa que o emissor tenha banca de criminoso.

Mas eu falei de fontes e motivações diferentes na disseminação de notícias fraudulentas. O mais grave são os pilantras que passam adiante uma falsificação porque estão engajados numa causa. Grosso modo, é a causa do negacionismo combinado aos “valores” do presidente Bolsonaro. Com essa ideia doente na cachola, é grande o número dos que atuam na campanha de mentiras.

Aqui por Alagoas, bandoleiros do negacionismo agem com a desenvoltura das mais depravadas. Os que rezam na seita de Bolsonaro e fazem oposição ao governo estadual estão na linha de frente das fake news. A turma alimenta os devotos com uma boataria sem fim, com presepadas sobre todos os setores que trabalham no combate à pandemia. Um ataque à saúde pública por jogada política.

Nesse embalo, aparecem certas autoridades com ilações irresponsáveis sobre a crise que aflige o país. Acontece aqui nas Alagoas, com tranqueiras parlamentares, e acontece lá fora, de modo explosivo com o presidente e seus vassalos mais repugnantes. São velhas táticas de criar tumulto em horas difíceis, com foco único nos dividendos eleitoreiros. E são todos da “nova política”.

Já escrevi aqui sobre a pandemia de fake news. Volto ao tema porque, como todo mundo pode constatar com facilidade, esse é um desalento sem fim de nossos dias. Será sempre necessário manter atenção em estado de alerta. Um vacilo, e um malandro qualquer pode nos vender uma safadeza embrulhada em “denúncia grave”. É na crise que o bandido explora as oportunidades.

Segundo a secretaria estadual e o Ministério da Saúde, até esta quarta-feira 29 de abril, Alagoas registrava 957 casos confirmados de Covid-19 e 41 mortes. No Brasil, o número de óbitos é de quase 6 mil. A tragédia é real. A ameaça está na rua e todos correm perigo. Isolamento e distanciamento são regras que salvam vidas. Picaretagem e fake news, ao contrário, são venenos que podem matar.

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