Sergio Moro e Jair Bolsonaro: os parças, a crise em novo patamar e o impeachment

27/04/2020 00:14 - Blog do Celio Gomes
Por Redação
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Em 12 de junho do ano passado, o CSA passou pelo caminho de Sergio Moro. Ele foi levado ao estádio Mané Garrincha, em Brasília, pelo presidente Bolsonaro. A dupla assistiu ao clássico entre o Flamengo e o time das Alagoas pelo Brasileirão. A iniciativa do capitão da tortura não foi um gesto qualquer. Tratou-se de algo planejado, com objetivo de dar uma força ao então ministro da Justiça. Moro estava acossado após as primeiras revelações da Vaza Jato, com aqueles diálogos nada republicanos. Precisava de ajuda. E teve.

Todos lembram. O site The Intercept Brasil mostrou que Moro e procuradores do Ministério Público Federal violaram regras incontornáveis num processo judicial. Nas investigações da Lava Jato, a turma mandou pro lixo todos os pudores e meteu o interesse político (e o financeiro também) na frente de tudo. Moro cometeu uma série de crimes quando “magistrado” no cumprimento do dever.

Muito bem. Isso começou justamente em junho de 2019. Faz menos de um ano, mas parece que faz um século – diante da vertiginosa cachoeira de acontecimentos estarrecedores e de informações que ninguém nunca nem imaginou. Divaguei. O que estou tentando dizer é que, na aventura tosca, abrutalhada e criminosa deste governo, Bolsonaro e Moro foram sócios, cúmplices, parças.

Quando o presidente leva seu puxa-saco ao estádio, está dizendo ao público em geral – e ao Gado em particular – que os dois estão juntos. Para delírio de torcedores ali perto da dupla, naquela partida pelo Brasileirão Jair Messias veste uma camisa do Flamengo. Em seguida, para reforçar o apoio a seu ministro, pede outra camisa a um torcedor e passa para Moro. Ele veste – e tudo acaba em aplausos.

Todo aquele clima de confraternização foi embora. Mas vejam que coisa um tanto estranha: Moro precisou de quase um ano e quatro meses para descobrir quem era, na dura realidade, o senhor Jair Messias. Como assim? O ex-juiz cansou de elogiar o chefe durante os 15 meses de governo. Dizia que o presidente era cidadão de bem, honesto e patriótico. De repente, Bolsonaro é o pior dos capetas.

Era uma vez um ex-juiz que entrou num governo com um plano na cabeça: garantir, no mínimo, uma cadeira de ministro do Supremo Tribunal Federal. Fazia todo o sentido, afinal foi isso o que Bolsonaro lhe prometera lá atrás. Foi isso o que toda a imprensa noticiou desde sempre. Ocorre que a Lava Jato fez de Moro um popstar – e assim o STF não seria mais, pra ele, nenhuma Brastemp. Ele quer mais.

Moro presidente do Brasil! O homem logo percebeu que teria cacife para um voo sem limites. As pesquisas do Ibope e do Datafolha, para citar os maiores e mais confiáveis, mostram, a cada temporada, que o agora ex-ministro tem voto para brigar. Não se sabe, ainda, como ficou esse potencial eleitoral após a ruptura com Bolsonaro. Novas pesquisas, a caminho, terão o novo retrato.

A demissão de Moro ocorreu na sexta-feira 24. Ele e Bolsonaro passaram o fim de semana trocando farpas e ataques pelas redes sociais. Cada um tenta emplacar sua versão sobre este ou aquele episódio envolvendo ambos ao longo da convivência que tiveram. Como já escrevi, não compro o peixe de nenhum dos dois – especialistas que são em vender como saudável o que é podre.

Até a noite do domingo, pouco mais de 48 horas após a explosão de mais uma crise política, o presidente não oficializou os novos titulares no comando da Polícia Federal e no Ministério da Justiça. E faz sentido a demora. Afinal, esta não é uma crise qualquer. Como ainda não havia sido registrado até então, Bolsonaro e impeachment passaram a frequentar, todos os dias, a mesma frase.

O que vai acontecer, ninguém sabe, ninguém pode apostar um centavo. Mas, como diriam analistas de peso aqui e ali, a crise subiu de patamar. Alguém escreveu, não lembro quem, que Moro foi canonizado pelo Jornal Nacional. Já Bolsonaro, tresloucadamente, radicaliza o discurso em favor de sua gang. Como acaba o jogo, não sabemos. Aquele CSA e Flamengo foi 2 a 0 para o time carioca.

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