O governo Bolsonaro no fundo do poço

27/04/2020 19:10 - Blog do Celio Gomes
Por Redação
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Nos tempos em que não havia o politicamente correto, eu poderia começar o texto afirmando que o governo Bolsonaro é o samba do crioulo doido. No meio de uma pandemia, o presidente troca o ministro da Saúde. Logo depois, demite o ministro da Justiça. E entre uma demissão e outra, balança o ministro da Economia. Três setores de peso, vitais para o êxito de uma gestão, são atropelados pela ignorância e pelo casuísmo das demandas do mandatário da República. Muita doideira pra um só governo – e para um Brasil apenas.

Nesta segunda-feira, em mais uma daquelas entrevistas coletivas improvisadas, o presidente apareceu ao lado justamente do ministro Guedes. Foi uma forma de acalmar o tal mercado, bastante nervoso nos últimos dias com a suspeita de que o governo dê uma guinada em sua agenda econômica. Seria o derretimento de um dos “pilares” que sustentam a aventura bolsonariana.

Paulo Guedes ficou numa situação estranhíssima após o governo anunciar uma espécie de pacote de investimentos – sem a presença do ministro. Quem manda agora na parada é o general Braga Neto, o milico linha dura que assumiu a Casa Civil. De fato, foi um troço sem explicação lógica. Zeloso de sua vaidade que só ele, é ainda mais inexplicável que o sempre irascível Guedes aceite a humilhação.

Sem aviso prévio, o governo do agora mandachuva Braga Neto lançou o PAC do Bolsonaro – no caso, se chama Pró Brasil. Na apresentação do que deveria ser o detalhamento dos projetos, tivemos mesmo um desastre. O chefe da Casa Civil não conseguiu esclarecer coisas básicas, como as fontes para bancar as maravilhas prometidas. Até agora ninguém entendeu nada. E Guedes reapareceu.

Ao falar ao lado do presidente durante a manhã desta segunda, ele fez de conta que não existe crise nenhuma, que logo ali teremos a bonança e, o principal, exaltou a firmeza do comando presidencial. Ou seja, tratou de bajular o chefe ali, ao vivo, olho no olho, pessoalmente. É um tanto melancólico ver o sempre aguerrido economista preocupado em se garantir no cargo. Que houve nos bastidores?

O presidente ainda não anunciou o novo ministro da Justiça. Do mesmo modo, não confirmou quem assumirá a direção-geral da Polícia Federal. É sintomático que assim seja: vacância de quase três dias em dois dos mais relevantes postos na máquina pública. A engrenagem dá todas as pistas de fracasso desde o início do governo, mas não deixa de ser surpreendente a rapidez da falência.

Enquanto Bolsonaro insulta as instituições e toca fogo na relação com o Congresso, outros ministros tratam de manter o nível de esculhambação generalizada. É o caso, naturalmente, de Ernesto Araújo e Abraham Weintraub. O titular das Relações Exteriores e o da Educação patrocinam uma vergonha atrás da outra, com seus atos e declarações abjetos. Pústulas e incompetentes, estão à solta.

Diante de tudo isso, até esquecemos de Ricardo Sales, Damares Alves e Regina Duarte. Com uma pandemia sanitária em meio à crise econômica, a agenda é toda dominada por dois segmentos. Mas a farra continua correndo solta nas demais áreas do governo. No Meio Ambiente, a ordem do senhor Sales é de queimada geral, invasão de terras indígenas, anistia para grileiros etc. No buraco.

As últimas notícias dão conta de que Regina Duarte já está de saída. Parece que – sendo ela mesma uma mocinha inocente – pode ter sido picada pelo mosquito dos “arrependidos”. É coisa de fábula, mas ela aceitou o cargo de secretária de Cultura por enxergar em Jair Bolsonaro qualidades de um estadista. Na vida real do trabalho, Regina não manda em nada. Ela também foi “enganada”.

Ah, sim, e ainda tem o centrão. E no meio do centrão tem o alagoano Arthur Lira. O deputado federal é citado como um dos cabeças do grupo que agora dará sustentação definitiva ao presidente Bolsonaro. É a velha troca de cargos e verbas por garantia no parlamento. Garantia do quê? Fechado com o centrão, nenhum pedido de impeachment vai adiante. O centrão garante a cadeira ao capitão.

São muitas confusões, espalhadas em diversas frentes, tudo com muito barulho e ao mesmo tempo – e num país com demandas urgentes. O governo Bolsonaro vai ficando cada vez mais parecido com as ratazanas que estão no topo da gang do planalto. Deu a lógica. As patetices e as bandidagens seguem o ritmo frenético da “nova política” e da “nova direita”. É tudo vigarice na seita do Messias!

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