Bolsonaro e Moro se equivalem no banditismo

24/04/2020 18:51 - Blog do Celio Gomes
Por Redação
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Jair Bolsonaro e Sergio Moro se merecem (foto). Aí ninguém engana ninguém. Os dois se equivalem nas práticas de achincalhe aos melhores valores da democracia. Trocando em miúdos, são especialistas em fraudar a lei, o devido processo legal, o estado de direito. Portanto, não cola essa historinha de que Moro teria sido “traído” pelo presidente. Isso é lorota de campanha eleitoral, coisa da baixa política, exatamente o que sempre fizeram um e outro, cada um na sua especialidade de origem. Agora, são inimigos declarados.

O ex-juiz federal de Curitiba, o homem que seria a representação da “nova política”, o herói dos cidadãos de bem, não é mais ministro da Justiça no governo de Jair Messias. E sai atirando contra o cara que até ontem ele considerava um patriota exemplar. O que houve? Olha, o Moro se sente enganado, decepcionado mesmo, diante das “surpresas negativas” patrocinadas pelo presidente.

Não diga! Moro trocou a carreira de magistrado por um ministério – depois de agir como cabo eleitoral do candidato Bolsonaro. O problema é que esse cabo eleitoral usava toga. E foi como juiz, pairando acima do bem e do mal, que ele fraudou as regras de todos os códigos, com especial fixação contra a Constituição. Moro é bandido. Bolsonaro também. As diferenças são de maquiagem.

Claro que a novidade desta sexta-feira, 24 de abril de 2020, põe um ponto final no que era até agora o governo Bolsonaro. E se inaugura, em tons que parecem dramáticos, o que podemos chamar, sem exagero, de novo governo Bolsonaro. Para o que predominava no bolsonarismo (e na extrema-direita), ocorre uma fissura de dimensões inéditas. Suspense geral sobre o futuro imediato.

São muitos os aspectos desta que é a maior crise política no Brasil sob o governo do capitão da tortura. Há muita especulação quanto a eventuais desdobramentos. Os mais incendiários apontam para renúncia iminente de Jair Messias. Para estes, o vice Hamilton Mourão está pronto para assumir o comando – dentro da lei, sem atropelos nem nada. Além do mais, o vice seria alguém “confiável”.

Mas se Bolsonaro atiça os piores meios para implodir sua própria gestão, talvez ainda não seja este o momento final. Não parece que estejam na mesa todos os ingredientes para forçar o chefe do Poder Executivo a pegar o caminho de casa. Ele resiste mais um pouco e vai continuar aprontando o que apronta desde o início. É o que temos por enquanto, horas depois do terremoto começar.

Durante quase uma hora, no fim da tarde e começo da noite desta sexta, o presidente falou sobre a demissão de Sergio Moro. Vale um texto exclusivo sobre o conteúdo da fala. Por agora, ressalto a forma como Bolsonaro tratou o ex-ministro Moro. Reforça o meu ponto: ambos se merecem. Após o casamento celebrado pelos cristãos honestíssimos, agora um chama o outro de mentiroso. Beleza!

Bolsonaro diz que Moro concordaria com a troca no comando da Polícia Federal desde que isso ocorresse após sua nomeação, pelo presidente, para o STF. Todo mundo sabe que a dupla negociou uma cadeira do Supremo Tribunal Federal ainda durante a campanha de 2018. O ex-juiz rebate o ex-chefe e diz que nunca vinculou o assunto à substituição na direção-geral da PF. Acareação já!

Os leitores que passam por aqui desde 2017 sabem o que penso de Moro e Bolsonaro. Considero uma comédia digna da Vera Cruz e da Atlântida o espetáculo dos “arrependidos” – os que estão tristinhos com Bolsonaro. Essa rapaziada tinha certeza de que o país contava com um estadista. E de repente – e pela razão mais errada possível, que é idolatrar Moro –, descobrem que Jair “capitulou”.

Voltarei mais tarde ao assunto que sacode os poderes. Fernando Henrique Cardoso pediu a renúncia do presidente. Enquanto isso, Sergio Moro está maluco no Twitter, com uma postagem atrás da outra. Tenta desmentir o que Bolsonaro disse no pronunciamento do fim da tarde. É o que teremos enquanto a temperatura estiver fervendo – um canalha apontanto a canalhice do outro. São iguais.

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