Politicagem explica ‘denúncias’ e contamina debate sobre a pandemia de coronavírus

20/04/2020 18:03 - Blog do Celio Gomes
Por Redação
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No discurso, todos concordam que não é aceitável politizar a crise provocada pela pandemia do novo coronavírus. Mas é justamente o que ocorre em todas as frentes, em todos os níveis, de norte a sul, do Acre a Pernambuco, de Brasília a Alagoas, dos pampas aos seringais. No plano nacional, temo cair na redundância ao tratar de Bolsonaro. No domingo, ele exibiu sua índole depravada em toda a extensão. Jair Miliciano aderiu escandalosamente à manifestação que defendia intervenção militar e volta do AI-5.

Nesta segunda-feira, menos de 24 horas depois do ato criminoso que exaltava ditadura militar, o sujeito tenta negar o inegável. Bolsonaro tem a cara de pau de dizer que o ato era pela reabertura do comércio, e não uma apologia ao autoritarismo. De novo e sempre, a mesma jogada, a estratégia de “testar limites” das instituições, da democracia, e ficar no centro do debate. Aquele gado fiel aplaude.

Augusto Aras, o procurador-geral da República, pediu ao STF investigação sobre os atos de incitação à bandidagem – que contaram com o apoio do capitão da tortura. É uma parada complexa para o senhor Aras. Ele está no cargo por ser bolsonarista. Para nomeá-lo, o presidente ignorou a lista tríplice que recebeu do Ministério Público Federal. Aras nem participou da eleição de sua categoria.

Misturo as crises, os fatos e os potenciais estragos de cada episódio. Em Alagoas, há um magote de figurinhas engajadas em “problematizar” o panorama. Pelas redes sociais, eles não passam um dia sem apresentar uma nova “denúncia” contra o governo estadual ou a prefeitura de Maceió. Há também os malucos, que vivem na dimensão do terraplanismo, tendo pesadelos com comunistas!

Entre o mundo da lua e a canalhice de cidadãos de bem, vimos esses tipos na avenida Fernandes Lima, no domingão da capital alagoana (foto). Foi nossa manifestação pela volta da ditadura – na frente do quartel do Exército. Vi um vídeo de quase dois minutos com essa turma saracoteando pelas botinas de generais. Os berros e os pinotes em defesa do AI-5 são os sinais de almas penadas.

Essa manada só não pode ser sumariamente desprezada porque há perigo contra a sociedade nessas iniciativas. E isso se torna ainda mais grave quando esses alucinados ganham o incentivo do grande líder, o Messias Miliciano. Como o episódio de domingo foi ultrajante, até o senhor Augusto Aras, como falei, teve de forjar alguma atitude que demonstre compromisso básico com seu cargo.

Mas eu vou falar de outras presepadas da política que se alimentam da pandemia. Na Assembleia Legislativa, por exemplo, boa parte dos debates – agora virtuais, claro – está contaminada por demandas eleitorais. Velhas raposas se juntam à jovem guarda no parlamento para bombardear o governador Renan Filho. O mérito das discussões, logo se vê, não é remédio. É urna, voto e poder.

Além dos detentores de mandato, há um bando de arrivistas que lutam, e não é de hoje, para entrar no meio de vida da política. Nos dias atuais, são candidatos a vereador nas eleições marcadas para outubro próximo – caso não haja adiamento. Alguns desses elementos engrossam manifestações como a última, que defendem o fechamento do Congresso. São os luminares da “nova direita”.

Um desses que estão fazendo “denúncias” contra autoridades do estado na condução da crise sanitária é especialista em fake news. O rapaz vive publicando falsidades em suas redes sociais, fazendo ares de coisa séria. Deveria responder por isso na forma da lei. Evito nomes para não dar publicidade a essas tranqueiras. O sujeito a que me refiro já disputou duas eleições. Sem êxito.

Uma lástima tudo isso! Um presidente desmoralizado, fraco e ao mesmo tempo capaz de tantos estragos ao país, age como um maloqueiro. E em todos os cantos, como aqui em Alagoas, eternos oportunistas fingem preocupação com o povo, mas tentam mesmo é pavimentar a trilha para um mandato. Sim, o trabalho sério que deve ser feito enfrenta a sabotagem de aventureiros e farsantes.

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