Ele é um menino, apesar dos quase 33 anos, e tem uma aspereza singela de encarar o mundo, com os olhos cheios de esperança.
Os sonhos são emprestados de memórias alheias, que  ele vai amontoando na expectativa de caminhos.
Por conta de uma deficiência traz consigo algumas limitações cognitivas, mas, sua alma abarca uma solidariedade imensa.
Faz bem uns 15 anos que o conheço. Lembro que participou de uma ação, na época do Núcleo Temático Identidade Negra na Escola, da Secretaria de Estado da Educação, da qual era eu, a coordenadora ,e nunca mais foi embora.
A partir daí vestiu-se de  colaborador, intensamente,  presente do Instituto Raízes de  Áfricas.
Tem agonias de pressa. Consegue me ligar inúmeras, tantas e muitas vezes por dia, e, é nessa hora que o "basta", precisa ser verbalizado, para desacelerar ânsias do menino.
Sei do respeito que nutre por mim, e nesses  momentos , ocos de verdades , em que tanta gente alimenta o ódio como combustível, é muito bom poder falar desse menino , sobre gratidão e lealdade.
-A senhora está bem?- É sempre a pergunta diária.
Morador de uma periferia marcada pela desigualdade e  desempregado, disse-lhe para se inscrever no programa emergencial do governo e assim ele o fez. E dia destes me ligou para dizer que o cadastro foi aprovado e quando recebesse o recurso iria fazer isso e aquilo. Aconselhei-o a usar o dinheiro de forma comedida. Ele ouviu, atentamente e depois me perguntou:- A senhora precisa de alguma coisa?
E, é aí que reside a magia do amor desse menino. Mesmo tendo tão pouco há esse olhar da partilha, a energia da troca.  Fiquei emocionada. Disse-lhe que não e agradeci.
Esse é  o José Augusto, que já  se auto-promoveu, meu chefe de gabinete.
Um dileto amigo, daqueles que a gente eterniza no lado esquerdo do peito.