O bolsonarismo no Ministério da Saúde

16/04/2020 20:02 - Blog do Celio Gomes
Por Redação
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No meio de uma crise sem precedentes, com uma pandemia que ameaça a vida de milhões de brasileiros, Jair Bolsonaro troca o ministro da Saúde. Enquanto outros países lidam com a situação de modo técnico e profissional, o Brasil mostra ao mundo que por aqui predomina a esculhambação. As motivações do presidente para mudar o comando na pasta são todas políticas. Nada a ver com preocupação com a saúde da população. Bolsonaro está de olho, hoje e sempre, nas eleições de 2022. O resto é firula.

Mas afinal o que muda com a troca ministerial? Por enquanto é tudo mistério. Sai Luiz Henrique Madetta, entra o médico oncologista Nelson Teich (foto). O novo titular é apadrinhado por nomes da ala mais rastaquera do bolsonarismo. Ele é um simpatizante da turma desde a campanha eleitoral. Deu consultoria para ajudar o então candidato a presidente. Parece um típico “cidadão de bem”.

Vamos ver o que o novo ministro vai aprontar como primeiras medidas no enfrentamento à pandemia. No discurso que proferiu no fim da tarde desta quinta-feira, ao lado de Bolsonaro, Teich falou muito e esclareceu pouco. Sua fala foi uma sucessão de platitudes. A grande expectativa é quanto ao isolamento social. Para o presidente, isso tem de acabar logo, “o mais rápido possível”.

O assunto até que entrou no trololó do novo ministro, mas sem que ficasse claro afinal o que ele pretende fazer. O escolhido pelo capitão da tortura disse que não podemos separar saúde e emprego, combate ao vírus e a economia do país. É preciso combinar as duas vertentes, ele defendeu. Ocorre que isso todo mundo fala – até Bolsonaro. E na prática, como fica a teoria?

Antes de Nelson Teich falar, Bolsonaro fez seu pronunciamento para anunciar a substituição no Ministério da Saúde. Tive a impressão que o presidente estava “chapado”. Não sei o que o homem teria usado antes de aparecer em público. Ele falou de modo arrastado, com a cara fechada e ares de alta tensão. Repetiu a mesma ladainha, com indiretas para prefeitos e governadores. Ridículo.

Segundo a imprensa, Teich tem fama de competente. Suas credenciais mostram que ele é um queridinho dos empresários da saúde. Nunca teve qualquer relação com o sistema público. Gigantes da medicina privada aplaudem com entusiasmo a escolha. Até aí tudo bem. Espera-se apenas que essa festa toda não seja sinal de que o ministro está a serviço de doutores endinheirados.

Durante a fala do presidente, ao lado de seu novo ministro, houve panelaços e gritos de “fora Bolsonaro”. Vi na TV que as manifestações ocorreram em vários pontos do país. Jair Messias sabe que o clima não é bom para ele, ainda que montado na base de suas milícias digitais. A turma mais fanática, que antes tratava Mandetta como herói, agora prega o linchamento do ex-ministro.

A mudança de agora no governo é um clássico: Mandetta cai não pelo que fez de errado, mas pelos seus acertos. Em outras palavras, foi demitido por causa dos méritos e não por defeitos. Eis um dado que é suficiente para medir a bagaceira no governo Bolsonaro. Com um quadro turbulento como este, é difícil acreditar em avanço na gestão da crise. A fala no novo ministro, como disse, não ajudou.

Um exemplo de como as coisas se passam na Presidência do Jair: o site da revista Veja informa que a gestão Mandetta está sendo devassada por agentes da Abin, a Agência Brasileira de Inteligência. A ordem de Bolsonaro é para que arapongas encontrem provas de que haveria corrupção na pasta. A turma quer “desconstruir” a imagem do ex-ministro, aprovado pela maioria da população.

É claro que precisamos esperar a posse e as primeiras medidas do senhor Nelson Teich. A partir daí veremos qual é a dele. De todo modo, para quem acredita em alguma coisa neste governo de boçais, farsantes e truculentos, boa sorte. Não é o meu caso. É que bolsonarismo não combina com ética, razão e decência. Se o novo ministro provar o contrário, será um milagre. Eu não levo muita fé.

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