Isolamento social para salvar vidas é combatido pela estupidez ideológica

14/04/2020 16:42 - Blog do Celio Gomes
Por Redação
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Não há muito o que inventar numa avaliação sobre escolhas diante da crise provocada pela pandemia de Covid-19. Quanto às medidas preventivas, de um lado estão a ciência, a razão, a lógica. Na outra margem do rio, há o sobrenatural, o misticismo, a crendice, o amadorismo, o negacionismo mais estridente. Não é difícil entender qual o caminho a ser seguido. Ainda assim, não faltam vozes a defender a “volta à normalidade”. E a principal liderança na campanha de combate à racionalidade, claro, é Bolsonaro.

Não sei o quanto o prefeito de Teotônio Vilela, Joãozinho Pereira, é adepto das ideias do capitão da tortura. Mas, a julgar por sua iniciativa, ele pareceu aliado à pregação criminosa do presidente da República. Como se sabe, o mandachuva no município do agreste alagoano baixou decreto determinando a reabertura do comércio e demais atividades. Isolamento social pra ninguém, nada.

Ainda bem que o decreto municipal nasceu e morreu em 48 horas. Em resposta a uma ação movida pela Defensoria Pública de Alagoas, o presidente do Tribunal de Justiça, Tutmés Airan, cassou a decisão do polivalente Joãozinho. De quebra, o TJ estendeu o mesmo entendimento a todos os municípios do estado. Qualquer decreto contrário ao isolamento terá validade zero.

Sobre o decreto em Teotônio, fala o defensor-geral, Ricardo Melro, autor da ação levada ao TJ: É uma medida sem competência federativa, atentatória à saúde pública, que esvazia as iniciativas já tomadas em outros âmbitos (federal e estadual), direciona e joga a sociedade local contra um severo risco sanitário de contaminação sem qualquer parâmetro ou respaldo médico ou científico por trás.

Itália, Espanha e Estados Unidos fizeram o que celerados defendem que seja feito no Brasil. Nesses países, o número de casos – e de mortes – explodiu em pouco tempo, até que os governos percebessem o tamanho do estrago decorrente de suas posturas irresponsáveis. Até agora não há alternativa ao isolamento social como medida eficaz para barrar o contágio amplo. Não há mágica.

Questionar ações contra a pandemia apenas por motivação ideológica é o ingrediente mais estúpido nesse debate. Não somos especialistas. Não temos como repudiar ou aprovar esta ou aquela recomendação médica baseados no achismo e muito menos em fatores partidários. Sigamos então o que eles, os especialistas, dizem. É assim que funcionam as coisas. Parece até bem elementar.

Com o pateta Bolsonaro à frente do bloco daqueles que negam a gravidade da crise, o Brasil chega às manchetes mundiais como exemplo de atentado à segurança das populações. Sabe-se que a turma do Planalto, o núcleo duro da gangue, joga tudo no caos. Haja o que houver, a máquina de fake news tentará vender um Bolsonaro “vítima do sistema”, impedido de salvar o país. E assim vai.

Até lá, vai-se tocando a agenda da confusão permanente. Não se fala de outra coisa a não ser na iminente demissão do ministro Henrique Mandetta. Se ele sai, se ele fica, nada muda, o terremoto não vai parar. Não sei que outro país enfrenta a pandemia de Covid-19 em meio a tamanha bagaceira política no coração do governo. O Brasil da seita Messias Bolsonaro normalizou a insanidade.

Voltemos a Alagoas. A histeria de empresários e de outros tipos de homens de negócio tenta forçar a barra contra o governo estadual. Até uma carreata foi bater na porta do palácio numa descabida manifestação em favor de medidas que beneficiam o vírus. Sim, porque eles querem o liberou geral, com todo o tipo de comércio reaberto. Seria o fim da quarentena – adotada hoje no mundo inteiro.

É a receita para a morte, não tenho dúvida. Porque tem sido assim em todos os casos de afrouxamento no combate à pandemia. Parece claro que o governador Renan Filho não pretende seguir por essa trilha suicida. Ao contrário. É praticamente certo que o decreto de isolamento, com o fechamento do comércio até o próximo dia 20, seja prorrogado até maio. Salvo uma bomba.

O governador deve agir de acordo com a ciência. Se está seguindo o que dizem médicos e autoridades de saúde reconhecidas mundialmente, é isso mesmo o que tem de fazer. O trabalho deve ser fiscalizado e, quando necessário, criticado também, é claro. Agora, quando a gente repara nos tipos que atacam as medidas oficiais e o isolamento social, fica até fácil escolher o lado certo.

É difícil. É uma canseira, você pode pensar. Mas é a travessia necessária. Se pintar uma vacina logo, ou se algum medicamento resolver o tratamento, beleza! Não é o que temos para a estação. Para vencer a pandemia, isolamento, quarentena e cuidados com você e com o outro. A obrigação do governo federal é agir para proteger os brasileiros dos efeitos mais duros da crise. Tremendo desafio!

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