Pandemia impõe mudanças definitivas no trabalho, nos hábitos e na rotina

08/04/2020 22:37 - Blog do Celio Gomes
Por Redação
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A jornalista Flávia Lima, ombudsman da Folha, chamou atenção para o fenômeno em sua última coluna, no domingo 05/04. Com alguns dados do jornal em que trabalha, ela especula o tamanho da transformação que sofrerá o jornalismo em decorrência da pandemia que assusta o mundo. Da redação da Folha, 90% da equipe estão trabalhando de casa. Resultado de crise financeira, redações no mundo inteiro reduziram pessoal. Agora, por meios tortos, o ataque de um vírus deve aprofundar tendência já avassaladora.

O texto da jornalista ressalta outros aspectos relevantes nesse panorama de novidades que sacode a imprensa em todos os continentes. Depois de ler a coluna pensei o seguinte: o mesmo cenário de revolução certamente vai ocorrer em incontáveis setores, para milhões de pessoas. Parece provável que se a mudança brusca de rotina, mesmo forçada, baixou custos, sem queda na produção, já era.

O serviço no banco, as demandas num escritório de qualquer coisa, o nascimento de uma obra-prima na agência de publicidade – tudo isso e qualquer outra atividade estarão em xeque após a pandemia. Se a galera produz de casa, sem a necessidade de uma estrutura física, às vezes pesada, então por que não decretar o home office para todo o sempre? Diria que é o caminho inapelável.

Reparem que impacto em potencial está logo ali na esquina! Como diz a ombudsman da Folha em relação ao jornalismo, a pandemia deve impor “mudanças profundas a médio prazo”. Mas, insisto, o terremoto alcança uma vasta antologia de atividades e profissões. A realidade inesperada será o parâmetro para decisões que afetam a vida pessoal, a economia e até a paisagem nas cidades.

Sem esticar o aspecto econômico – até porque não se sabe a dimensão do que virá –, o emprego (ou desemprego) está no centro do vendaval. Quando as coisas se reacomodarem, após a superação da pandemia, veremos então como fica o trabalho no mundo pós-crise. A essa altura, agências e consultores dados a profecias sobre mercado e dinheiro estão desenhando projeções ousadas.

As reportagens que não param de pular sobre nós falam ostensivamente da “nova rotina” de famílias por todo o Brasil. Em pequenas e grandes cidades, em todas as camadas, crianças, jovens, adultos, netos, avós, mãe e pai, todas as gerações estão em novo ritmo, vivendo os dias como nunca viveram desde que chegaram ao mundo. Não é pouca coisa. O que era um ensaio está na ordem do dia.

Caso se confirmem as previsões mais extremas, digamos assim, não sabemos quantos milhões de nós terão de reaprender a se movimentar no dia a dia. Se as famílias estão arrancando cabelos porque estão numa convivência forçada, o que podem aprontar se esta excepcionalidade virar regra inevitável? Não quero ser alarmista, mas as notícias que se espalham dão conta de coisas horríveis.

Não tenho muita certeza, mas parece pertinente, ao menos assim de primeira, especular que os efeitos psicológicos da circunstância vão se prolongar. Logo depois haverá desdobramentos, mais ou menos graves a depender do lugar e das personagens. Claro que há vasta margem de incertezas.

Devo informar ao leitor, tão-somente em nome da pauta aqui em debate, que não me enquadro nos tipos que mais aparecem na imprensa como exemplos de rotina transformada pela pandemia. Nenhum drama. Também não sei de nenhuma figura próxima que tenha surtado devido à crise.

Retomando o começo, redação quase vazia significa falta de contato direto entre os jornalistas – de todas as etapas envolvidas na produção da notícia. Que impacto isso terá? O mesmo vale para qualquer tipo de trabalho, cada área sendo afetada em algum nível. É o mundo de cabeça pra baixo.

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