Fecomércio solta nota equivocada para chantagear o governo do Estado

07/04/2020 17:11 - Blog do Celio Gomes
Por Redação
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A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Alagoas quer o fim do isolamento social e a volta das atividades econômicas. Como o CM já informou, a entidade divulgou nota nesta terça-feira sobre a decisão do governador Renan Filho, que prorrogou até 20 de abril a vigência do decreto decorrente da pandemia de Covid-19. A Fecomércio alega os fortes prejuízos nas empresas, impedidas de tocar seus negócios, para voltar à normalidade. É o que exigem os empresários aliados caninos ao presidente Bolsonaro. 

Não digo que este seja o caso dos senhores que comandam a Fecomércio alagoana. Mas eles acabam reforçando essa postura tresloucada dos radicais bolsonaristas. A nota cobra do governo estadual “um equilíbrio entre os interesses econômicos e sociais”. Mas não sugere alternativas para o que está em vigor. Qual seria este ponto a equilibrar a economia e as demandas do povo?

Vejam que o pessoal do comércio e do turismo, ao menos no texto da federação, reproduz a oposição entre interesse econômico e compromisso social. Tratam uma coisa separada da outra – o que é um equívoco mortal. A postura passa a impressão de que estamos diante de gente como o dono da Havan e outros celerados. Para estes, as ideias loucas de Bolsonaro garantem seus lucros.

A manifestação da Fecomércio me parece um tanto fora de hora, no tom errado e sem nada que contribua para a solução dos problemas. Parece que o objetivo é apenas pressionar o governador. O teor da nota joga na conta de Renan Filho a encrenca pela qual passam as empresas. A coisa não é assim tão simplória. Alagoas segue os protocolos e recomendações adotadas em todo o mundo.

O que os empresários filiados à Fecomércio têm feito para enfrentar a crise provocada pela pandemia? Além de reclamar a queda nos lucros, apresentam algo para contribuir na guerra contra a disseminação do vírus? Estão em alguma frente de solidariedade aos mais vulneráveis? Parem de choramingar o tempo todo e mostrem, agora, o quanto são “criativos”, com “foco e determinação”.

Ou essas qualidades valem apenas na maré mansa, nos tempos de fartura? Digam aí quais as ideias brilhantes os donos do dinheiro estão para apresentar ao país, aos alagoanos. Claro que não existe solução mágica – até porque os que acreditam em coisas sobrenaturais estão justamente do lado dos bolsonaristas. Mas não se pode, obviamente, contar com esses terraplanistas incuráveis.

Ainda sobre a nota da Fecomércio, a turma se esforça em listar uma pororoca de índices negativos nos negócios do comércio. O mesmo para o turismo e o setor de serviços. Com os dados, a entidade tenta impressionar o leitor e, de certo modo, piscar para o governador com alguma chantagem.

O tom alarmista é mais evidente na exposição de indicadores de desemprego. A nota afirma que os desempregados em Alagoas somam hoje 13%. E, na linha do labafero para espalhar medo, especula que o quadro ficará muito pior. Não é a melhor das condutas numa hora de tamanha apreensão.

O texto da Fecomércio termina como começou – com uma confusão entre termos que não podem ser vistos separadamente: A Fecomércio reitera que é preciso equilibrar os interesses da sociedade e do setor produtivo para que o desenvolvimento seja contínuo, criando oportunidade a todos.

A rapaziada insiste em separar o que seria do interesse do “setor produtivo” daquilo que podemos chamar de direitos básicos do cidadão. É uma visão primária das coisas, algo que nem ajuda no enfrentamento dos problemas. Com esse tipo de comportamento, o “setor produtivo” se apequena.

O país não enfrenta um problema rotineiro. A pandemia de Covid-19 não tem precedente nas atuais gerações. Os sacrifícios estão em diferentes áreas e segmentos. Como sempre, sobra para os mais pobres. Empresários podem ajudar. Espera-se que com ideias – e não com chantagem barata.

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