Crise e subalternidade do Brasil no contexto internacional

05/04/2020 10:55 - Fábio Guedes
Por Fábio Guedes Gomes
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Assistimos uma corrida frenética da Ciência mundial na busca por uma saída que abra possibilidades de solução para essa pandemia que varre países.

Também, vemos a disputa aberta no plano comercial por equipamentos, insumos e materiais médicos. Cargas que se movimentam pelos oceanos em grandes navios cargueiros são desviadas e não chegam ao destino. Essa foi uma das acusações da Alemanha contra os EUA.

As disputas no polo dominante se acirram, com a China levando larga vantagem nesse agora. O Dragão asiático cresceu no início desse século numa velocidade de 10,5% ao ano em média. Os EUA e Alemanha apenas 1,7% e 0,9%, respectivamente. Atualmente, a China responde por cerca de metade da produção mundial de televisores, dois terços da produção de vídeos e câmeras digitais, pouco mais da metade dos telefones móveis e quase a absoluta de computadores. A rápida industrialização chinesa permitiu alcançar o monopólio da produção de equipamentos médicos e hospitalares.

Os EUA ainda possuem inegável capacidade tecnológica, poderoso sistema financeiro-bancário e o monopólio de emissão da moeda de transação internacional, quer dizer, poder de seigniorage, no economês. É claro, não menos importante, mas fundamental, contam com o maior arsenal de guerra e complexo militar-industrial do planeta. Somando os vinte maiores orçamentos para as áreas militares do resto do mundo, chega-se ao que os EUA dispõe todos os anos. A execução desse orçamento nessa área retroalimenta não somente investimentos em muitos segmentos industriais voltados para produção de armas, equipamentos, bens intermediários etc. mas, estrategicamente, o desenvolvimento científico e tecnológico. Por mais que queiramos, o Vale do Silício tem limitadas possibilidades de reprodução em outros lugares simplesmente porque ele é fruto dos objetivos de Segurança Nacional em pesquisa e desenvolvimento (P&D) e encomendas tecnológicas para áreas militares, desde a década de 1970.

A crise causada pela pandemia do Covid-19, é um importante teste de verificação como as grandes potências se comportam dentro do núcleo hegemônico de poder. De que maneira a economia política internacional se apresenta. Evidente que não esperamos um conflito mais grave entre elas, a situação não permite nesse momento. Mas, as peças no tabuleiro do xadrez estão se movimentando pelas casas em velocidade adiantada, com as jogadas sendo pensadas mais profundamente.

De um lado, os EUA passando por um perrengue maior do que a crise financeira de 2008, para não deixarem sequelas profundas em termos de perdas de vidas. No entanto com uma capacidade infinita de seignorage, um sistema financeiro-bancário poderoso e sentados em cima de um aparato de guerra extraordinário.

Do outro lado, a China, sem capacidade, ainda, de competir no campo bélico, mas com uma população de 1,4 bilhão de pessoas (exército infinito), uma máquina industrial dominando o mundo em vários segmentos produtivos e, não menos importante, com as maiores reservas de moeda e títulos denominados em dólar do planeta. De longe o maior credor dos EUA. Não só abastece o Tio Sam de mercadorias como também de dólares norte-americanos.

Isso tudo sem falar do papel da Rússia nesse tabuleiro. Com sua elevada capacidade de produção de gás e petróleo, domina o fornecimento para a Europa, conta com um parque industrial importante e reúne um arsenal bélico considerável. Os russos, mesmo com um histórico de conflitos em várias frentes, com a China as possibilidades de alianças são altas.

Por sua vez, a Inglaterra e a França são países com armas nucleares, possuem importantes economias, mas podemos dizer que nesse jogo de disputa internacional ficam em segundo plano. A primeira, aliada histórica dos EUA. A segunda, mais independente, tende a manter estreitos laços de alianças estratégicas com a Europa mais ao Leste. A poderosa Alemanha tornou-se o centro financeiro e industrial da Europa. Elemento de equilíbrio da União Europeia, pelo seu conservadorismo e interesses econômicos, no contexto das disputas comerciais entre EUA e China. Mas, do ponto de vista da concorrência dentro do polo dominante, também figura no segundo plano.

E o Brasil nesse contexto? O que tínhamos de excelente em capacidade técnica e estratégica, o diálogo, o poder de convencimento e articulações, se perderam completamente ao longo dos últimos cinco anos. Deixamos de ocupar espaços importantes no plano internacional e em suas instituições, como FMI, BRICS e no Novo Banco de Desenvolvimento desse bloco. Sob a gestão desse Chanceler abobalhado do governo Bolsonaro, viramos chacota além fronteiras. O ministro da Educação faz piada com a China em suas redes sociais e os filhos do presidente disparam ofensas, criam ideias estapafúrdias e constroem teorias conspiratórias esdrúxulas. Somos quase que absolutos, nesse momento, na subalternidade internacional.

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