O coronavírus e o impeachment de Bolsonaro

27/03/2020 01:48 - Blog do Celio Gomes
Por Redação
Image

A crise mundial provocada pelo novo coronavírus ganhou no Brasil um componente peculiar. O tumulto extra se deve à postura do presidente Bolsonaro. A pandemia que se alastra pelo mundo foi tratada pelo capitão como uma “gripezinha”. As palavras do chefe do Poder Executivo assombram os países lá fora e, aqui dentro, liberam o debate sobre o impeachment do incapaz. Ninguém pode prever o que virá disso tudo, mas, diante do comportamento criminoso de Bolsonaro, um afastamento já não é mais uma ficção.

Por toda a imprensa, fala-se em virtuais cenários para uma interdição do homem que desonra o cargo e envergonha o Brasil. A última especulação aponta para uma renúncia – o que seria resultado de uma negociação já em andamento. Bolsonaro seria convencido a se afastar e teria como “compensação” uma “anistia” aos filhos, envolvidos em suspeitas de corrupção e outros crimes.

Claro que tudo não passa de conversas de bastidores, opiniões de jornalistas e variados interesses políticos. Sim, é isto também, mas o movimento tende a crescer, caso Bolsonaro avance na sua tresloucada estratégia de negação da realidade. Diante do histórico, ele não vai parar. Para manter o estilo e os métodos, o sujeito deve aumentar a aposta no caos. É da sua essência.

Com um presidente como Bolsonaro, o país embarca numa crise turbinada – com estragos para além dos efeitos previsíveis da pandemia. Em dois dias seguidos, ele foi na contramão de todas as recomendações da Organização Mundial da Saúde. O palavrório atravessa o discurso do ministro Luiz Henrique Mandetta e de sua equipe. Aliás, o ministro já piscou para as insanidades do chefe.

Em entrevista coletiva, o “técnico” Mandetta achou um modo enviesado de se ajeitar ao discurso de Bolsonaro – que contraria, repito, todas as recomendações médicas. O ministro fugiu das perguntas mais diretas sobre o que dissera o presidente. Aí a coisa ficou um tanto mais preocupante. O ministro deixou no ar a impressão de que está de olho no vírus, mas também na política.

E o que se passa na cabeça do capitão da tortura? O que pretende com esse jogo que muitos julgam ser um gesto suicida? Diante dessas perguntas, até agora ninguém conseguiu afirmar nada que não fosse a tal “loucura com método”. É aquela história de controlar 30% do eleitorado nas redes sociais – e de tudo fazer para segurar os fiéis até o fim, até a morte. Parece estúpido. Mas é o que se passa.

Claro que ninguém deveria estar falando de política numa hora dessas. É o que todos dizem. Mas política é o que todos fazem, de um lado e de outro, na guerra em que Bolsonaro atua como chefe de tropa e incendiário. Além do presidente, os perturbados de sempre atacam – em boa medida com robôs – na frente de produção de fake news. A mentira é o oxigênio da turma que idolatra o mito.

A crise na saúde pública atropelou o governo que nunca chegou nem perto de entregar o que prometera no campo econômico. O trololó de crescimento nas alturas, a volta do emprego, a estabilidade – nada disso saiu do plano das fantasias de Paulo Guedes. Agora, então, a coisa foi para o vinagre, sem perspectivas de recuperação em prazo razoável. O pandemônio está no começo.

Fato é que o destino de Bolsonaro está atrelado em definitivo aos desdobramentos da crise provocada pela Covid-19. Mas isso se dá num grau muito mais elevado do que seria em condições normais, sem um presidente alucinado que parece tentar empurrar o país a um buraco sem fim.

Se Bolsonaro continuar na mesma toada, os humores da política – que já estão em outra onda – podem pegar uma ventania de efeitos arrasadores. Basta uma circunstância mais envenenada, e pronto. Não se pode esquecer que Bolsonaro não tem base nenhuma no Congresso Nacional.

O vice Hamilton Mourão é visto desde o começo do governo como alguém mais confiável que o presidente. É o que pensam setores da imprensa, do empresariado e da política, como se pode constatar em artigos e reportagens nacionais. O general sabe que seu destino também pode mudar.

Comentários

Os comentários são de inteira responsabilidade dos autores, não representando em qualquer instância a opinião do Cada Minuto ou de seus colaboradores. Para maiores informações, leia nossa política de privacidade.

Carregando..