Na manhã do domingo carregado de silêncios e rastros da pandemia do COVID 19, minha vizinha do andar de cima, me trouxe verduras e deixou à porta.
Depositou as verduras à porta e me ligou. Um gesto simples, mas revestido de extrema gentileza.
Um gesto que faz lembrar outros tempos.
Quando não tínhamos muros, feito masmorras de proteção, em nossas casas.
Começamos a construir os muros internos e externos, tendo como desculpas, a proteção da privacidade, e iniciamos o auto-isolamento de outros mundos. Cada um@ em seu quadrado.
Sim, já vivemos, faz tempo, em um isolamento voluntário. Um isolamento, com tarjas rotuladas com "status", que nos separa dos "diferentes."
As verduras que ela me trouxe tem a essência da solidariedade d' outros tempos, em que a vizinhança ficava bem ali, ao lado, ao alcance das nossas mãos e afetos.
Lembro da infância quando faltava mantimentos em casa,a mãe nos pedia para ir a vizinha mais próxima atrás de um "bocadinho " de açúcar, de sal e, nessa relação alimentávamos nossa alma de partilhas.
Partilhávamos relações de amizade e convivência entre as pessoas, como portas abertas para humanos simples e solidári@s, que um dia já fomos.
Obrigada,vizinha!

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