Novo partido de Bolsonaro recolhe assinaturas de eleitores que já morreram

07/03/2020 17:39 - Blog do Celio Gomes
Por Redação
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O Aliança pelo Brasil, novo partido de Jair Bolsonaro, não deve disputar as eleições municipais deste ano. Na verdade, a legenda está em processo de formação, com a fase de coleta de assinaturas. Para entrar na corrida eleitoral de 2020, os organizadores têm até o dia 4 de abril para levar ao TSE 492 mil assinaturas, que terão de ser validadas pela Justiça. Também é obrigatório que os apoiadores representem ao menos 9 estados do país. Até agora, o resultado da mobilização bolsonarista é um tremendo fiasco.

Segundo dados oficiais do Tribunal Superior Eleitoral, a tropa de Bolsonaro conseguiu validar pouco mais de 7 mil assinaturas de engajados na criação do novo partido. Como a turma do Jair inaugurou a “nova política”, um novo tempo na vida pública brasileira, o TSE detectou fraude nos garranchos apresentados. Entre os supostos apoiadores que assinam a lista do Aliança, alguns já morreram.

Isto mesmo: os moralistas da moral alheia – essa turma que veio nos ensinar a receita da honestidade – dialogam com o mundo dos mortos. Não se sabe como se deu o papo de convencimento junto aos seres de outra dimensão. Fato é que a Justiça acusou o golpe e negou o registro dos assinantes-fantasmas. Para explicar o estranho caso, chamaram o senador Flávio Bolsonaro.

O Zero Um disse que foram poucas as situações com “eleitores” finados. Tratou-se de erro de digitação na hora de cravar o número dos documentos. O senador, amigo íntimo de milicianos, também garantiu que alguns apoiadores morreram dias depois de assinarem as listas do Aliança. Como se vê, estamos diante de um “novo” político, com “novas” explicações.

Em Alagoas, uma patota percorre bairros de Maceió e cidades do interior, trabalhando em nome do presidente miliciano, para capturar assinaturas que ajudem na criação do partido. O mentor intelectual desse processo por aqui é o jurássico Cabo Bebeto, o deputado estadual que reverencia a cruz e a pistola. Não sei qual o grau de lisura que ele emprega na sua coleta de assinaturas entre nós.

O Aliança pelo Brasil é inspirado na Arena, o partido da ditadura pós-64 – que torturou e matou brasileiros ao longo de duas décadas. Considero sempre relevante lembrar a origem de certas ideias que, do dia pra noite, voltam como se fossem alguma novidade pra valer. Não é assim. A nova sigla do Jair é a atualização das ideias mais tacanhas que já assombraram o Brasil. Tudo velho, podre.

A presepada no processo de criação do novo biombo partidário para a seita bolsonariana mudou os planos eleitorais da turma. Deputados do PSL que gostariam de pular fora do barco são obrigados a ficar. Se saírem, perdem o mandato. Brasil afora, alguns pretendiam disputar um mandato de prefeito pelo Aliança. Mas isso é praticamente impossível – salvo algum milagre do Capeta.

Em Alagoas, a mudança de planos também se impõe para Bebeto, essa liderança de alto nível na extrema direita estadual. O rapaz pretendia ser candidato a prefeito pelo Aliança. Não dá mais, como já expliquei. Então ele fica no PSL, mas trabalhando contra o próprio partido do qual é filiado.

Quando anunciou sua desfiliação do PSL, após tentar uma rasteira mortal contra o presidente da sigla, Luciano Bivar, parecia que Bolsonaro não teria dificuldade em abrir o novo endereço. Mas agora constatamos que aquela empolgação toda não era bem assim. A zoada virtual às vezes é enganação.

O caso Aliança mostra o real modus operandi dessa gente que adora mandar bala e perguntar depois. É tudo fake, é tudo obscuro, é tudo violento. A farsa total vai das engrenagens do governo à rotina de politicagem. Um novo partido, carcomido antes de nascer, resume o desastre.

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