Sindicato dos Policiais Civis festeja suposto aumento no índice de homicídios em AL

01/03/2020 03:10 - Blog do Celio Gomes
Por Redação
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O Sindicato dos Policiais Civis parece torcer pelo aumento do número de homicídios em Alagoas. Mais que isso: a direção da entidade se pronuncia como se estivesse comemorando as mortes violentas registradas durante o mês de fevereiro. As observações decorrem da leitura de reportagem na Gazetaweb. De acordo com o portal, no segundo mês do ano houve um crescimento de 24% nos homicídios dolosos. Os dados, informa o texto, foram levantados pelo próprio sindicato da categoria junto ao governo.

Não sabemos na verdade se os dados estão corretos ou não. Por enquanto, o que existe é o levantamento feito pelos sindicalistas. Mas o meu ponto aqui não é debater a consistência dos percentuais apresentados. O que me chama atenção é o discurso, a postura do presidente do sindicato, Ricardo Nazário. Ele é o único personagem e a única fonte na matéria da Gazeta.

Antes de comentar a entrevista do líder sindical, vamos aos dados que ele informa na reportagem. Segundo Nazário, até a última sexta-feira 28, o mês registrou 132 homicídios dolosos, contra 106 verificados no mesmo período do ano passado. Nazário, segundo a Gazeta, chega a projetar que os números finais de fevereiro vão bater em 144 crimes contra a vida. Futurologia com precisão!

Até a sexta, portanto, o aumento estava em 24% em relação a fevereiro de 2019. Na conta final, prevê o quase vidente sindicalista, essa taxa de homicídios ficará em 33%. E por que o empenho do sindicato em propagar os números – com ares de satisfação? É que o discurso de reivindicação salarial recorre ao terrorismo para convencer a opinião pública. Vamos ouvir o que diz o rapaz.

Reproduzo trecho da reportagem: Ricardo Nazário, presidente da entidade, diz que estes números provam que a Polícia Civil paralisada afeta em cheio a estrutura da Segurança Pública. ‘Estamos querendo negociar com o governo para que isto não aconteça. Não adianta a PM desempenhar a função se a Polícia Civil estiver desmotivada e paralisada’, declara. É um estranho pensamento.

Na mesma pegada, segue a matéria da Gazeta, Nazário mostra suposta preocupação com a violência. Vejam: Ele explica que o movimento da categoria só está em execução por causa da intransigência do governador Renan Filho em não negociar. ‘Quem mais sofre é a sociedade com o aumento dos homicídios’, avalia. A imagem é de um patriota zeloso pelo bem-estar de todos.

Reparem: o presidente do Sindpol, segundo a Gazeta, afirma que está “provada” a relação direta entre greve dos agentes civis e aumento de homicídios. Como se vê, o argumento central para pedir aumento de salário é exatamente este: se o governo não der o reajuste cobrado pela categoria, o banho de sangue estará nas ruas. Aí complica. É como se houvesse uma torcida pela tragédia.

Por essa lógica, bastante temerária, não interessa ao sindicato que o estado apresente números favoráveis na área da segurança. Com o índice de homicídios em queda, como ocorre nos últimos anos, a categoria perde seu principal fator de barganha! É isso mesmo? Parece um tanto descabido, e até uma perversidade, que policiais civis joguem com esse tipo de raciocínio, com essa equação.

O sindicato sabe que cabe à Polícia Militar o trabalho ostensivo de garantir a segurança nas ruas. Por isso, faz questão de ressaltar que não adianta a PM desempenhar a função, se na Civil os caras estão dispostos a tudo para obter o que querem. É um esforço tremendo para “provar” o quanto uma greve de agentes pode fazer explodir os números sobre homicídios. É o velho “quanto pior, melhor”.

Não sei... Vejo uma sombra de cinismo misturada à hipocrisia nesta singela declaração do presidente do sindicato: Quem mais sofre é a sociedade com o aumento dos homicídios. A preocupação, além de claramente demagógica, soa um tanto falsa. O tempo todo, como se constata, a tática é a de espalhar medo. E, se confrontado por essas alegações, o sindicalista joga a conta no governo.

Todos queremos o servidor público com os melhores salários. Toda categoria tem o legítimo direito de reivindicar o que considera justo. O que não pode é a chantagem – ainda mais de um segmento que lida com a segurança. Se o aumento de homicídios é o fator decisivo na pressão sobre o governo, até onde o Sindpol iria pra garantir os índices que fortalecem a causa? Fica a pergunta.

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