Jair Bolsonaro investe contra a democracia

26/02/2020 09:45 - Blog do Celio Gomes
Por Redação
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As hordas que apoiam Jair Bolsonaro anunciam mais uma manifestação de rua, de novo com as motivações que embalam essas almas milicianas: o alvo, claro, é o Congresso Nacional. Deve sobrar também para o STF. A turma não se conforma com as regras do jogo. O capitão da tortura pretende governar de modo imperial, com desprezo absoluto pelo parlamento. A nova investida chapa-branca está marcada para 15 de março. Não estivesse o país na quadra em que está, a coisa seria vista como inacreditável. Mas é o que temos.

Há um detalhe particularmente assombroso nesse espetáculo de última categoria: são os deputados e senadores que não apenas apoiam como incitam o golpe contra o Legislativo. Esse tipo de gente está também nas Assembleias estaduais e Câmaras Municipais. Ou seja, são figuras que ganharam uma eleição e hoje sabotam a instituição que juraram respeitar e defender. Lixo sem recuperação.

Eu falei em algo inacreditável porque, até um dia desses, quem imaginaria que parte da população brasileira estaria disposta a pedir o fechamento do Congresso? Que democracia pode existir sem o pleno funcionamento do Poder Legislativo? É o sonho dourado daqueles que acreditam num regime autocrático, numa sociedade sob as ordens de uma porcaria qualquer. Querem uma ditadura.

Os bandos que organizam as passeatas usam a fala do general Augusto Heleno como uma espécie de slogan do movimento. Lembrando: na semana passada, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional chamou deputados e senadores de chantagistas. Era uma reação aos embates do governo com a Câmara e o Senado acerca do “orçamento impositivo”. Heleno não é sutil.

No fim de seu “desabafo” contra o parlamento, o ministro mandou um “foda-se” para deputados e senadores. A laia tresloucada do bolsonarismo parece ter ficado em transe, tamanha a excitação com as palavras estúpidas do general. Daí para a convocação do protesto a favor, não faltava mais nada. Em atos anteriores, os cidadãos de bem e senhoras do lar pediram a “volta dos militares”.

O meliante que ocupa a Presidência da República também se mostra naturalmente empolgado com o ataque às instituições. Sem surpresa, o presidente amigo de milícias passou a terça de Carnaval distribuindo um vídeo que convoca a tropa para o dia de afronta a um dos pilares da democracia. O chefe do Poder Executivo conspira contra o regime democrático. É crime previsto na Constituição.

As reações começaram imediatamente. Políticos de diferentes partidos e entidades como a OAB condenam a atitude do presidente que desonra o cargo e envergonha o país. Como sempre ocorre, aposto que Bolsonaro deve aparecer com alguma “explicação” ridícula para negar que tenha feito o que fez. É sempre assim que agem os boçais, os valentões que, na verdade, são apenas covardes.

Ainda deputado do baixo clero, irrelevante e golpista como sempre foi, Bolsonaro defendia abertamente o fechamento do Congresso. Hoje, temos de conviver com um sujeito que despreza o Estado de Direito, a Constituição, a relação civilizada com as diferenças de pensamento. Nada mais previsível, portanto, que essa atuação do presidente desqualificado contra as liberdades.

Como já ficou claro em muitas ocasiões, o adorador de torturadores testa o clima, avalia os humores na praça para, com segurança, intimidar os demais poderes da República. É sua tática permanente. Governar acima de tudo e de todos é o verdadeiro lema de um projeto de poder que se pretende totalitário. Mais do que nunca, está declarada a ofensiva do mandatário contra o Brasil que resiste.

E mais do que resistir, é obrigação de todos que prezam pela democracia interditar a marcha dos degenerados que pregam o obscurantismo. Além dos outros dois poderes, Judiciário e Legislativo, entidades da sociedade civil têm de mostrar que esse chefe de quadrilha não tem plenos poderes – ainda que apoiado por saudosistas do terror e protegido por jagunços de farda, toga e gravata.

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