Do motim à eleição, no meio do Carnaval

23/02/2020 00:45 - Blog do Celio Gomes
Por Redação
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Rui Palmeira saiu do PSDB. É o fato político mais importante dos últimos tempos na vida pública alagoana. Por aí. Ele estava no partido desde 2009. Dizem nas esquinas que é uma tentativa de sobrevivência para o prefeito de Maceió. A decisão de sair é a única alternativa no racha com o senador Rodrigo Cunha, hoje o dono da bola nas negociações eleitorais pelo PSDB. A sucessão de Rui estremece as relações entre lideranças e partidos como não se via, penso eu, desde eleições remotas. Novidades ficam pra depois do Carnaval.

Claro que, como a política, o futebol não para nos dias de folia. Ao menos no Sábado de Zé Pereira, a rede balançou nos gramados do país, incluindo o Campeonato Alagoano. Carnaval & Futebol. Rafael Tenório, o mandachuva do CSA, anda invocado. Neste começo de ano, o Azulão levou pancadas na Copa do Brasil, na Copa do Nordeste e no Estadual. Tenório é do grito, do porrete, teatral.

O noticiário foi capturado pelo caso Ceará. A crise na segurança pública se traduz num motim de policiais militares. A rapaziada partiu para o radicalismo, em ações que o Brasil não costuma ver em nosso vertiginoso cotidiano. As cenas do senador Cid Gomes (foto), baleado ao tentar invadir um quartel, montado numa retroescavadeira, traduzem toda a irracionalidade da peça. Tragicômico.  

Pelo que li, a rebelião na PM cearense é obra de uma turma bolsonarista. É o resultado das urnas de 2018, que elegeram meio mundo de patentes país afora. Há o temor de que outros estados sejam contaminados pelo clima instalado no Ceará. Aliás, essa ameaça apareceu em manifestações de líderes sindicais, inclusive em Alagoas. Diria que o caminho do confronto está errado na largada.

Mas eu preciso falar um pouco sobre o gesto do senador Cid Gomes. Bom da cabeça, o cara não é, como prova uma antologia de falas e ações que a internet registra. Como é que se vai negociar com alguém, ou um grupo, e o negociador surge em cima de uma máquina, disposto a botar abaixo muros e portões? A imagem é de ataque, não de bandeira branca para o diálogo. Cid é doideira.

O deputado estadual Cabo Bebeto, ainda no PSL, aprovou a truculência daqueles policiais militares de São Paulo que espancaram estudantes dentro de uma escola. Para quem não se emenda, “é pau, e pronto”, reflete o parlamentar que os alagoanos mais heterodoxos elegeram em 2018. Em vídeo nas redes sociais, Bebeto explica em detalhes as razões de sua posição. O país tá mudando, garante ele.

A mudança celebrada pelo deputado – um reacionário extremista da seita que idolatra Bolsonaro – é o “excludente de ilicitude”. É a licença para matar que Sergio Moro pretendia tornar lei. O Congresso mexeu na presepada, alterou o texto em muitos pontos e barrou o ataque ao Estado de direito. Mas, vendo o dia a dia, o mecanismo entrou em vigor, parece na cartilha clandestina de algumas polícias.

Com o sábado para trás, agora o futebol brasileiro aparece somente nas reportagens e nas entradas ao vivo de repórteres de TV. Jogadores e demais subcelebridades falam no meio do bloco, nas ruas de Salvador e nos desfiles das escolas de samba. As entrevistas diretamente dos camarotes – de qualquer evento – revelam áreas de inflexão da alma brasileira (isso existe?). É terraplanismo puro!

E ainda acabamos de ver o general Augusto Heleno expor, baixinho, todo o seu apreço pelo Congresso Nacional. “Foda-se”, bateu continência o ministro que era visto como “moderado”. O que ele mais fez até aqui no governo foi mostrar o contrário – parece sempre disposto a chamar a tropa. Não é por nada que, com a queda de Onyx Lorenzoni, Bolsonaro cercou-se ainda mais por militares.

Voltarei durante o Carnaval para falar um pouco mais sobre pontos que agora, neste texto, foram apenas tangenciados. O suspense aumentou sobre candidaturas à prefeitura de Maceió, por exemplo. Tem a ver com o movimento de Rui Palmeira, como escrevi lá no começo. Fica pra logo mais. Até a quarta de cinzas, assunto é o que não falta, embora a imprensa enlouqueça no frevo.

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