Bolsonaro e Alexandre Garcia odeiam o povo

06/02/2020 03:33 - Blog do Celio Gomes
Por Redação
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Alexandre Garcia foi porta-voz de João Figueiredo, o último dos generais da ditadura instalada em 1964. Toda vez que, por alguma razão, o ex-jornalista vira notícia, lembro de sua entrevista com o então presidente, em 1985, disponível no YouTube. É uma das coisas mais asquerosas que se pode ver em termos de sabujice e puxa-saquismo. O porta-voz do atraso trata seu entrevistado com uma subserviência como poucas vezes se viu na imprensa brasileira. 35 anos depois daquele vexame, o velhinho Garcia continua em forma.

A última demonstração de sua mente perturbada apareceu numa palestra que ele deu esta semana. Falando para uma plateia de convertidos ao bolsonarismo, Garcia partiu para o esgoto do mais puro desprezo pela população brasileira. Para esse sujeito, a receita do desenvolvimento do país é simples: basta trocar de povo. Segundo sua teoria, gente que presta mesmo vive no Japão, não aqui.

Fala o porta-voz da ditadura: “Com esse sol, esse litoral, com esse subsolo, com esse clima [do Brasil], alguém teria dúvida de que os japoneses transformariam isso daqui em primeira potência do mundo em dez anos?. Além de criminosa, a ideia é tão antiga quanto a estupidez de tipos como Garcia e Jair Bolsonaro (foto). Não por acaso, o presidente postou em suas redes sociais o vídeo da palestra.

Entre o fim do século 19 e começo do século 20, intelectuais brasileiros, tomados pelo pensamento racialista, defendiam exatamente o que agora defende o ex-global que bajula o governo dia sim, dia também. Eloquentes pensadores como Silvio Romero, Nina Rodrigues e Oliveira Vianna, cada um à sua maneira, formaram um trio que classificava os seres humanos a partir da cor da pele.

Eram os tempos da eugenia, da “pureza racial” que, como sabemos, deu no que deu. Segundo essa visão falaciosa da realidade, a presença do negro era fator determinante para o atraso do país. O caminho seria então incentivar a chegada de brancos europeus. O branqueamento teria o efeito de nos livrar da mistura com “raças inferiores”, sobretudo índios e africanos. Andamos para trás.

A nova exibição de delinquência de Alexandre Garcia será esquecida logo. Entra para o folclore que reúne as piores e maiores barbaridades já formuladas por cidadãos de bem. Mas o episódio diz muito do país que elegeu Bolsonaro e cultua seus “princípios” na vida pública. Para um elemento se sentir à vontade pra dizer o que disse Garcia, então é porque chegamos na última camada do lamaçal.

As coisas estão feias? O país não cresce? A educação pública segue no sucateamento? Ora, a culpa por estes e todos os males é do povo – do governo, jamais. A conta a pagar é da massa ignara – dos poderosos e da máfia do “mercado”, nunca. Por que um presidente da República exalta uma fala que agride e ofende o que há de mais sagrado numa nação, que é o seu povo? Essa é a “nova direita”.

É meio tedioso ter de escrever sobre esse oceano de infâmia e mediocridade. Mas, como este é o meu trabalho, ressalto que está tudo de acordo com o nível mental dos garotões que se apaixonaram pelo capitão da tortura. Fico sempre na dúvida sobre qual é a proporção de idiotia e qual o percentual de depravação moral na cabeça dessa turma. Seja como for, a resultante é uma vergonha.

Na campanha, o candidato Bolsonaro pregava o extermínio da oposição, da “petralhada”. Como se vê, ele vai progredindo e, agora, expõe seu desejo de se livrar do povo em geral. Seus devotos devem achar tudo muito lindo, devem delirar que o ídolo tem algum respeito por eles. É um drama quando alguém precisa acreditar em ideias sobrenaturais para se manter agarrado a “valores” tão caros.

Figueiredo ficou na História como o presidente que, também numa entrevista, disse preferir o cheiro de seus cavalos ao cheiro do povo brasileiro. É o que pensam Bolsonaro, seus filhos maloqueiros e a corja que lambe suas botas em nome de uma boquinha. Enquanto tiver no cabresto os rapazolas que rastejam por ele nas redes sociais, o presidente seguirá com essa avançada estratégia de governo.

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