Prefeitura de Maceió despreza a orla lagunar – um estelionato eleitoral a céu aberto

04/02/2020 02:16 - Blog do Celio Gomes
Por Redação
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No dia 21 de fevereiro de 2017, na capital alagoana, dezenas de pessoas participaram de uma reunião na sede da Secretaria Municipal de Educação. Formada por moradores da orla lagunar (na região do Dique-Estrada), a pequena multidão estava ali a convite da prefeitura. Todos foram conhecer o megaprojeto Maceió de Frente pra Lagoa. Esse era o nome fantasia de uma obra que, na publicidade oficial, mudaria tudo – pra melhor, é claro – na paisagem e na vida de 150 mil pessoas. Três anos depois, nada saiu do papel.

Na campanha de reeleição, o prefeito Rui Palmeira vendeu essa promessa como um dos principais projetos de seu segundo mandato. Em 2018, escrevi aqui sobre o assunto e afirmei que o De Frente Pra Lagoa era o maior desafio para o tucano no comando dos destinos da cidade. Aquela reunião com moradores foi divulgada pela prefeitura em texto que você encontra na internet. Ali está escrito:

“Com auditório lotado, a população conheceu, em detalhes, o projeto e como será realizado o acompanhamento pedagógico e todo o funcionamento da intervenção na área. Também foram apresentados os benefícios que serão implantados, como creche, escola, academia de ginástica e área semiaberta para atividades de recreação”. Em outro trecho, dizia a prefeitura:

“Além de todo o sistema de esgotamento sanitário, drenagem, pavimentação em todas as ruas do bairro e iluminação em LED, também será realizada a reconstrução do edifício de apoio da Guarda Municipal e o Centro Comunitário, que vai servir para capacitação, empreendimentos e várias oficinas e ações para a comunidade, desenvolvidas em parceria com a Prefeitura”. Isso era, repito, 2017.

Como se vê pelos termos da informação oficial, seria uma transformação como jamais houve naquela parte da cidade. A faixa lagunar que seria contemplada pelas obras vai do bairro da Levada ao Trapiche, num trecho de aproximadamente 6 km. Na área está o Conjunto Joaquim Leão, onde fui morar em 1983, logo depois de inaugurado. De lá para cá, prefeitos falaram muito e nada fizeram.

O fracasso de Rui nesse caso é um carimbo de incompetência em sua testa – e algo que seu candidato terá dificuldade para defender na eleição deste ano. Não precisa ser marqueteiro de grandes ideias para cravar no prefeito, além do selo de incompetente, o título de pai de um dos maiores estelionatos eleitorais da história da capital. Prometeu, foi reeleito e descumpriu a promessa.

Perguntem ao prefeito quais serão suas grandes realizações no último ano de mandato. Ele vai citar “obras de infraestrutura” em bairros da parte alta e litoral norte de Maceió. Sobre a orla lagunar, o tucano fará um contorcionismo retórico para explicar o que não tem explicação. E sobre a “infraestrutura” para as demais regiões, a coisa toda se resume a jogar asfalto e tapar buraco.   

O desastre político para o prefeito é que o projeto De Frente Pra Lagoa é um fiasco a céu aberto. Está logo ali para quem quiser ver – e se assustar com o cenário de terra arrasada. No ano passado, para completar a bagaceira, a prefeitura interditou parte de uma das pistas que atravessam os bairros. Seria o início do trabalho de “revitalização”. Até agora ninguém entendeu a estranha presepada.

Os bacanas da Ponta Verde, a área nobre jamais esquecida, ficam abismados quando, por acidente, cruzam aquele pedaço. Isso ocorre quando o sujeito vem do litoral sul e decide, ao sair do Pontal, fazer o trajeto em direção ao Farol. Soube de gente que, ao encarar a geografia à beira da lagoa, pensou que poderia ser vítima de atentado, bala perdida ou algo assim. É outra cidade, apartada.

O chamado Dique-Estrada não interessa ao poder público. Está na periferia do paraíso das águas. É um amontoado de gente vivendo, na maioria, em condições degradantes. Catadoras de sururu, pescadores, vendedores de latinhas, os sem-emprego, os sem-escola, os favelados... Quem liga para essas famílias que enfeiam o cartão-postal? Diante de seus dramas, a prefeitura virou as costas.

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