Do Flamengo ao Campeonato Alagoano: a TV Globo, a grana e os segredos do futebol

02/02/2020 15:28 - Blog do Celio Gomes
Por Redação
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O começo do ano teve uma novidade inesperada no meio do campo do futebol brasileiro. O Flamengo partiu pra cima da TV Globo, num esquema tático para arrancar mais dinheiro da emissora pelos direitos de transmissão dos jogos do Campeonato Carioca. As partes não revelam números. O UOL informa que o time do urubu apresentou uma proposta pra lá de abusiva na hora das negociações. A TV acertou 18 milhões de reais a cada um dos quatro grandes do Rio. O Flamengo pediu 81 milhões.

Pelo que li a respeito, a iniciativa do time de Jorge Jesus não tem base na realidade, não combina com o histórico da relação entre a Globo e os clubes. Depois de um ano vitorioso como havia décadas não acontecia, a direção do Flamengo decidiu jogar pesado. Mostrar a emissora carioca como grande vilã, convenhamos, não é tarefa tão difícil assim. Há um cheiro de chantagem na praça.

A briga serve para desmontar uma lenda urbana sobre a relação da TV da família Marinho e o time do eterno Zico. O que é que está na boca da galera? O Galvão é flamenguista, tem o Junior, tem aquele comentarista, tem o repórter... Todos os globais são flamenguistas. Se é assim, por que a dificuldade para fechar um contrato sobre o desprestigiado torneio carioca? Não faz muito sentido, certo?

Negócios não se misturam com emoção. Somente no marketing. “Aqui é emoção!” é o slogan da TV na boca de Galvão Bueno – mas isso é refrão publicitário. O time dos caras é o Dólar Futebol Clube. A massa de torcedores, claro, é o “ativo” que faz a roda girar. Milhões de pessoas vivem (e muitos até morrem) em decorrência dessa paixão inexplicada. O negócio segue atento essa bússola.

A Globo já repassa tanto dinheiro aos grandes clubes que nem cogita debater os valores trazidos de repente pelo Flamengo. A cúpula da empresa entende que se trata de uma jogada, uma forma de azedar o humor da torcida com a TV, que pode ser acusada de não mostrar jogos do FLA porque estaria sendo mercenária. E a emissora deixa de lucrar com a marca mais atraente longe da tela.

Até poucos anos atrás, a Globo não se importava com a transmissão dos campeonatos estaduais. Concentrava todas as baterias na Copa do Brasil, Brasileirão e Libertadores. Mas é tamanho e vasto esse comércio do futebol que o interesse da concorrência acabou mobilizando a empresa. E a Globo passou a comprar os direitos dos regionais em todos os estados. Alagoas entrou na roda.

Em 2008, a TV Pajuçara marcou um golaço contra sua principal concorrente, a TV Gazeta, afiliada Global em Alagoas, ao anunciar que passaria a transmitir os jogos do nosso campeonato. Era algo inédito por aqui, com partidas ao vivo quase duas vezes por semana, nas quartas e domingos. A coisa não pegou bem para o pessoal da Gazeta junto à poderosa rede, que manda e desmanda na afiliada.

Tudo ia muito bem para a afiliada da Record, até que em 2014, ao que parece numa tacada decorrente de uma trama em segredo, a insuspeita Federação Alagoana rompeu o contrato com a Pajuçara. Do dia pra noite, notórios chefões da bola aqui no estado anunciaram que, a partir de 2015, o campeonato passaria para a TV Gazeta. E assim foi por cinco anos. Até que a coisa mudou de novo.

Não adianta procurar dados, números e cifras. O tema, este sim, é uma caixa-preta em Alagoas. Depois da última edição do Estadual, em 2019, Federação, afiliada e Globo não se entenderam sobre o esquema de exibição dos jogos. Resultado: a TV Gazeta também perdeu o direito de mostrar os clássicos e as partidas de vida ou morte entre nossos times. O que houve? Jamais saberemos.

Mas se a TV Gazeta não pode transmitir, a TV MAR pode. E o Globo Esporte Alagoas também. Ou seja, TV aberta não entra no acordo, mas tudo bem na TV por assinatura e na internet. O detalhe é que tudo continuou nas mãos da Organização Arnon de Mello. Claro que dois fatores – e nada mais – pesaram para esse desfecho: o dinheiro e o lobby da Globo. Fora isso, tem a influência da política

Reitero: não adianta buscar informações sobre os termos da coisa. É tudo secreto. As partes alegam que se trata de uma relação comercial entre os interessados. E a transparência? Aí já é querer demais. Estamos falando de futebol, publicidade e cifras milionárias. Nesses casos, o mistério é tão importante quanto a assinatura com firma reconhecida. (Porque hoje é domingo, dia de bola rolando).

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