Presidente da OAB-Alagoas tenta desdizer o que disse e me acusa de ser tendencioso

30/01/2020 02:11 - Blog do Celio Gomes
Por Redação
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Uma das coisas mais tediosas em jornalismo é a tática de forçar a barra para produzir “polêmica” – assim, com aspas, porque me refiro a falsas polêmicas. Embora esteja num meio virtual, definitivamente não decido minhas escolhas pelo critério caça-cliques. Escrevo sobre algo quando estou diante de uma pauta que é relevante para as pessoas, quando se trata de episódio de interesse público. Faço essa introdução porque, em menos de duas semanas, escreverei agora, pela terceira vez, sobre a OAB alagoana.

Falei da Ordem dos Advogados do Brasil em Alagoas em textos publicados nos dias 17 e 26 deste mês de janeiro. Se quiser conferir os detalhes, o leitor pode ver tudo na íntegra, sempre disponível nos arquivos do blog. Resumindo, nas duas ocasiões tratei do mercenarismo da Ordem ao se meter no caso da tragédia do Pinheiro. O comando da OAB está preocupado com honorários advocatícios.

Depois que a Defensoria Pública (do Estado e da União) e o Ministério Público (Estadual e Federal) anunciaram acordo com a Braskem para indenizar as famílias afetadas pelas atividades de mineração da indústria, a OAB passou a questionar – de forma acintosamente desrespeitosa, eu diria – o trabalho dos defensores. Por quê? Espírito solidário com as vítimas desse acontecimento, talvez.

Infelizmente não. Em nota, a direção da OAB avisa que os defensores somente podem atuar nos casos em que a vítima tenha renda de até três salários mínimos – ou quando o imóvel seja avaliado em até 150 mil reais. No mais, decretou a Ordem, é com a “advocacia privada”. Por essas e outras escrevi no primeiro texto que, nesse drama, prioridade mesmo para a OAB é o bolso dos advogados.

Esta semana, o presidente da Ordem, Nivaldo Barbosa Junior (foto), deu entrevista ao jornalista Flávio Gomes de Barros, no programa Conjuntura, da TV MAR. Flávio citou este blog e questionou o mandachuva da OAB sobre a informação que publiquei no meu texto do dia 26. Ali, eu reproduzi as próprias palavras de Nivaldo Barbosa ao ser entrevistado pelo jornalista Lucas Malafaia, do Acta.  

Na conversa com o repórter, o presidente da OAB disse precisamente isto, palavra por palavra: “Na verdade, a Braskem se responsabilizou a pagar para advocacia e defensores um percentual daquele acordo que vai ser firmado. Os defensores, além de receberem os seus salários, também teriam essa participação – que iria para uma espécie de fundo de aparelhamento do órgão”. 

Pois agora ele nega as próprias palavras e diz a Flávio Gomes: “Há uma deturpação da informação. Não foi isso o que foi dito. O que foi dito é que existe, muito provavelmente, nos contratos, nos acordos que serão firmados, será revertido um percentual, e a Defensoria tem um fundo. Esse fundo não é utilizado para distribuir para os defensores. Esse fundo é usado para aparelhar a Defensoria”.

Vejam que na declaração que deu ao Acta, Barbosa Junior achou importante lembrar que os defensores “teriam essa participação” no acordo firmado – “além de receberem os seus salários”. Faço questão de destacar essa última frase porque, isto sim, ou não tem explicação ou muito explicado está. Entenderam? Que marmota de salário é essa, meu amigo?! O que isso tem a ver?

Ao tentar se desdizer na entrevista da TV MAR, Barbosa Junior nem nega nem confirma nem esclarece nada sobre o que dissera ao jornalista Lucas Malafaia. Apenas repete a ilação. Eu não deturpei nada, meu senhor. Reproduzi suas palavras. O leitor também pode conferir o vídeo com a entrevista completa no próprio site da OAB e nos canais do Acta no YouTube e nas redes sociais.

O presidente da Ordem reclama por não ter sido procurado por mim antes de publicar o que publiquei: “O Célio não me procurou. Nunca me ligou... Como um bom jornalista, Flávio, você sabe que seria pertinente um contato com a Ordem. Se não quer ter um contato comigo, pode ter um contato com a Ordem enquanto instituição”. Acho que o doutor faz confusão acerca de jornalismo.

Sobre sua cobrança, terei de escrever quase uma platitude. O que faço aqui não é reportagem. É jornalismo de opinião. Para opinar, posso recorrer, naturalmente, a fatos que estão publicados, com fontes devidamente comprovadas. Meus textos sobre a OAB analisam falas e atos concretos do próprio presidente da entidade. Eu não o procurei, mas, não se pode negar, ele é minha fonte.

Vamos às últimas afirmações de Nivaldo Barbosa a meu respeito no Conjuntura. Depois arremato com alguma opinião. 1) “A polêmica vem da cabeça de quem interpreta”. 2) “Nesse suposto embate, criam-se especulações que eu reputo que são desnecessárias”. 3) “A forma como ele apresentou a história foi muito estranha, muito tendenciosa. De fato, eu não entendi o que ele quis com isso”.

Ponto um: como já disse, polêmica sobre o nada não é comigo. Escrevo sobre o que realmente está pegando. Ponto dois: quem está criando especulações é a OAB ao levantar suspeitas sobre a conduta da Defensoria. Ponto três: o que o chefe da Ordem chama de “forma tendenciosa” em meus textos eu chamo de forma direta, incisiva, sem medo de melindrar figurões de qualquer casta.

“Eu não entendi o que ele quis com isso”. Essa é a última e curiosa dúvida sobre mim levantada pelo presidente da OAB na entrevista à TV MAR. O que exatamente ele não entende? O jurista talvez nem saiba, mas sua questão fala à essência do papel da imprensa. Vejam Millôr Fernandes num Roda Viva de 1989. Não, eu não ligo pra ninguém antes de escrever o que penso. Porque não quero nada.

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