A celebração do nazismo escancara a essência do governo de Jair Bolsonaro

18/01/2020 11:59 - Blog do Celio Gomes
Por Redação
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Jair Bolsonaro não queria demitir Roberto Alvim. Bem no começo da manhã da sexta-feira 17, como informa a imprensa, o presidente miliciano disse ao subordinado simpatizante do nazismo que tocasse a agenda. Horas depois, pressionado pela repercussão do vídeo infame, teve de se dobrar aos fatos. Esse detalhe é crucial no grotesco espetáculo. Jair concorda com tudo o que afirmou o ex-secretário da Cultura. O problema, para o capitão, foi a reação nos quatro cantos do mundo.

O mesmo vale para os seguidores fiéis do chefe da seita. Malandros, alguns disfarçados de jornalistas, pediram a demissão do secretário – mas não pelo conteúdo de suas palavras, do ensaio em que macaqueia a figura de Goebbels, e sim para se livrar do flagrante. É que a barbaridade de Alvim expõe a essência de um projeto de poder que tem como meta a eliminação da divergência.

Basta ver os termos em que vozes bolsonaristas “criticaram” o parceiro de ações autoritárias. O lamento não era, de novo, pelo teor da gravação, mas pelo tanto de prejuízo ao governo e ao ídolo Bolsonaro. Os cidadãos de bem, sem surpresa, vieram com a conversa mole de que são contra os regimes totalitários – e logo trataram de citar o comunismo. Ah, esse maldito globalismo cultural!

Quando o sujeito lança mão de ressalvas para supostamente condenar um gesto vigarista, mal consegue esconder a hipocrisia. É pior do que o silêncio. Para citar o tema da corrupção, é mais ou menos assim: o chefe da Secom da Presidência recebe propina, mas o bolsonarista adestrado defende o aliado citando que o PT também é corrupto. Isso não é argumento, é safadeza.

Roberto Alvim, além de perturbado e moralmente marginal, é também um covardão dos piores. Para tentar escapar da demissão e se agarrar ao cargo, jogou a culpa de sua invenção nos assessores. O elemento, tão histriônico ao manifestar suas toscas ideias, não teve sequer a coragem de assumir os próprios atos. É o típico corajoso das redes sociais. Ganhou a notoriedade que merecem as porcarias.

Igualmente repugnante é a fábula de que o homem foi vítima de sabotagem petista. Virgem Maria dos céus! Sinceramente, o eleitor de Bolsonaro é tão idiota a esse nível? Pois Olavo de Carvalho sacou esse ponto de vista, com jeito de quem fala sério. Antes do filósofo, sites que reproduzem as mentiras oficiais já fingiam acreditar nessa piada conveniente à horda que adula o capitão da tortura.

Roberto Alvim não é apenas um pateta atordoado. O que ele fez segue à risca diretrizes políticas do governo. Durante todo o primeiro ano de gestão, Bolsonaro deu carta branca a seus cães de aluguel. Eles foram incentivados, sempre, a agir com essa pegada de destruição de valores democráticos.

A fala do agora ex-secretário exalta a “nova cultura” e prega a implosão de tudo o que o país construiu até hoje. É o velho discurso de “começar do zero”, como se esses luminares tivessem a missão de reinventar a roda. Eis um dos pilares na base do que representou o nazismo e coisas afins.

O desastre do governo Bolsonaro não se resume a eventuais idiossincrasias espúrias de um ou de outro nome. É um sistema. Um modo de pensar que arrasta os diferentes tipos de bolsonaristas: malfeitores, desavisados, ignorantes, inocentes úteis... Você conhece um deles, talvez todos.

O que temos a contabilizar como positivo no episódio é o teste para as instituições e para esferas representativas da sociedade. O repúdio ao gesto do tal Roberto Alvim fez Bolsonaro engolir a dura verdade, para ele, de que embora tenha muito poder, não pode tudo. Na democracia é assim.

O que mais deve incomodar o presidente é o papel da velha imprensa. Desprezado por ele e por sua falange equestre, o jornalismo segue fundamental na defesa dos valores da civilização. Os grandes veículos, ainda bem, foram unânimes ao repelir a diatribe do nazista patriota. Não havia alternativa.

A demissão do rapaz que imita o chefe da propaganda hitlerista não encerra o caso. Sendo um sistema, como escrevi acima, o governo Bolsonaro tem de ser severamente vigiado pelas frentes que de fato defendem o regime democrático. E terá de ser barrado sempre que apelar ao vale-tudo.

Novas investidas como a de Roberto Alvim vão pintar na área. Porque é da natureza irrecuperável dessa turma que tomou o país de assalto com suas fixações doentias. Quem não lembra da defesa do AI-5 feita pelo filho maloqueiro e pelo ministro Paulo Guedes? Depravado, o monstro está à solta.

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