Minha avó materna tinha nome de imperatriz, Augusta.
Mulher preta de traços finos e espírito inflexível. Praticava uma educação severa. Dos castigos. Das pisas. Cada vez que ia em casa, nós, net@s nos escondíamos embaixo da cama. Morríamos de medo dela.
Augusta, minha avó, morreu quando eu tinha 10 anos, mas, lembro da força enérgica que transpirava. Mesmo com traços finos tinha riscos profundos de rudeza na face. Era a mão de ferro da família. Criou os filhos, e sobreviveu,bravamente, as tempestades que tentava soterrá-la.
E essas tempestades deixaram fissuras insaráveis na alma da minha avó. E da minha mãe.
Só vi minha mãe chorar em enterros.
A primeira vez foi no enterro da mãe, minha avô. Já adulta, mãe de um monte de filhos se vestiu de desamparo , uma fragilidade grandona quando perdeu sua metade esteio, a mãe.
Enterrou também o marido, e logo depois do filho mais novo.
Minha mãe, jovenzinha se formou em magistério, mas, não exerceu o sonho. Casou antes. Durante muito tempo carregou essa frustração. Naquela época mulher casada não trabalhava fora. O machismo do meu pai , cabra criado no interior, era exacerbado.
Tanto minha mãe Alda , quanto meu pai, Antonio Pedro, mestre funileiro, insisistiram na educação dos nove filh@s. Quase tod@s são formad@s no ensino superior.
Minha mãe Alda tem 88 anos e ao longo de todo esse percurso enfrentou as águas revoltas, malsãs, mas, mulher forjada por minha avó, Augusta, imprimiu resistência alargando as margens do tempo.
E segue...
Me percebo na mistura rústica dessas duas mulheres e fruto delas assumi a luta contra os feitos dilacerantes que o colonialismo provoca na alma da gente. Tornei-me ativista. Guardiã de um tesouro espiritual. E foco no racismo ,como um inimigo íntimo e cruel das muitas gerações de mulheres pretas.
Hoje é aniversário de 23 anos da minha descendência ,a ponte entre o passado e o futuro.
Hoje é o aniversário de 23 anos da minha descendência, elo geracional , e aconselho-a para manter-se também, como guardiã da herança ancestral de luta e resiliência da bisavá, da avó e da mãe. Lembranças de valores, como pontos de referência.
É aniversário da minha filha e de certa feita de todas as mulheres que vieram antes. E hoje todas nós juntas,cantamos, com palminhas ritmadas, o parabéns pra você.
Minha descendência, aniversariante, faz parte da geração seguinte de mulheres pretas determinadas e poderosas, que se revigoram, em continuidade.
Parabéns para você, minha filha, e nunca esqueça da importância consciente do Ubuntu, que potencializa a memória com os antepassados e fortalecerá teus passos futuros.
Siga feliz!

Raízes da África