Ronaldo Lessa, candidato a prefeito de Maceió: a história pode se repetir?

11/01/2020 16:46 - Blog do Celio Gomes
Por Redação
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Quase três décadas após se eleger prefeito de Maceió, Ronaldo Lessa (foto) está decidido a tentar um retorno ao comando da capital alagoana. Ele já deu vários sinais nessa direção. O último e mais enfático, que eu tenha visto, foi na entrevista ao jornalista Flávio Gomes de Barros, no programa Conjuntura, da TV MAR. Ali, sem meias palavras nem enrolação – uma qualidade rara na política –, o ex-governador desenha alguns dos possíveis cenários que podem torná-lo candidato à sucessão de Rui Palmeira.

Lessa é filiado ao PDT, o que teoricamente o classifica como um nome de centro-esquerda. Mas o que isso significa na prática na hora das alianças eleitorais? Muito pouco, ou quase nada, a depender das circunstâncias. O próprio ex-governador é exemplo dessa relatividade em termos ideológicos. Ao longo de sua carreira, se aliou com nomes e partidos que vão do PT ao senador Fernando Collor.

Mais recentemente, Lessa transitou entre os grupos do governador Renan Filho e do prefeito Rui Palmeira, dois inimigos no atual tabuleiro da política alagoana. Na entrevista a Flávio Gomes, ele fala sobre esses movimentos que, à primeira vista, parecem contraditórios. Não para o jogo do poder. Esse é apenas um dos aspectos que o virtual candidato terá de equacionar caso siga adiante.

Nas conversas que já manteve sobre a eleição municipal, Lessa, que também exerceu mandato de deputado federal, confirma negociações com o deputado João Henrique Caldas, do PSB, e com a ex-senadora Heloisa Helena, da Rede. É um balaio cheio de arestas – pelo passado com HH e pela disposição de JHC, que pleiteia ser, ele mesmo, candidato a prefeito. Alguém terá de cair fora.

Ainda na entrevista à TV MAR, o ex-prefeito, que governou Maceió entre 1993 e 1997, confirma as intenções de JHC nas conversas que tiveram. A chapa dos sonhos para o filho de João Caldas é ter Ronaldo Lessa como vice de sua candidatura. O parlamentar alega que seu nome aparece sempre na dianteira em pesquisas feitas para consumo interno do partido. É um argumento apelativo.

Sem querer fechar as portas para ninguém, Lessa não descarta eventual acordo com nenhum dos lados. No caso de sair como cabeça de chapa, e tendo Heloísa como vice, seria a repetição do que se viu em sua eleição de 1992. Ocorre que o fim daquele casamento foi traumático. Na eleição seguinte, de 1996, Lessa traiu sua parceira e apoiou Kátia Born, a candidata que acabou vitoriosa.

Quando se elegeu em 92, Lessa mudou de patamar no mundo político. Até então, ele engrossava a turma dos nanicos, ou algo por aí. Dez anos antes, se elegera deputado estadual. Em 1986 tentou o governo de Alagoas, mas ficou em terceiro lugar na disputa que teve como vitorioso o então jovem Fernando Collor. Após a eleição para a prefeitura, passou definitivamente ao time dos caciques.

Além de suas qualidades como animal político, o sucesso de Ronaldo Lessa a partir de 1992 – que seguiria com sua eleição para governador em 1998 – está ligado visceralmente aos rumos do Brasil daquela década. A crise que sacudiu o país a partir do impeachment de Collor tem tudo a ver com o fortalecimento de um nome como o de Lessa. Ele encarnou o vertiginoso desejo de mudança.

Os tempos mudaram tudo completamente. O Brasil de hoje, em tantos aspectos, parece outro planeta em comparação ao país dos fins do século 20. Que memória o eleitor guarda daquele cara de 40 e poucos anos que agitava demandas de transformação em Alagoas e no Brasil? Arrisco dizer que não sobrou nada. O milênio das redes sociais, de Bolsonaro e das fake news é loucura.

Reeleito governador em 2002, Lessa esteve no topo do poder até o fim do segundo mandato, em 2006. Ocorre que ali alguma coisa já havia se quebrado. Engolido por números desastrosos na segurança pública e nos indicadores sociais, sua influência junto ao eleitorado derreteu. Prova definitiva disso é sua derrota na eleição ao Senado, mesmo com o apoio da máquina e da cacicada.

Com esse histórico, Ronaldo Lessa é um candidato forte para tentar a prefeitura de Maceió agora, após quase três décadas de sua primeira eleição ao mesmo cargo? Sem medo de errar, chuto que sim. Um nome consolidado na política é sempre um “ativo”, como se diz hoje em dia. A depender das alianças, perto dos 71 anos de idade, ele está no páreo como um adversário cabuloso, bom de briga.

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