Demagogia eleitoreira domina o debate sobre reajuste na passagem de ônibus

10/01/2020 17:11 - Blog do Celio Gomes
Por Redação
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A passagem de ônibus em Maceió deve ter um reajuste nos próximos dias. O aumento está no calendário do serviço – e não há feitiçaria capaz de evitar a medida. É do jogo. As empresas que operam o transporte coletivo não vivem de filantropia ou de ações de caridade. Estão no mercado para ganhar dinheiro – claro que cumprindo as regras da concessão oficial. Nada de errado com isso. A nova tarifa, aliás, já foi aprovada pelo conselho municipal que trata do assunto. Mas a coisa virou uma briga infernal.

Para embarcar num ônibus nas ruas da capital, atualmente o usuário paga 3 reais e 65 centavos. Esse valor vigora desde fevereiro de 2018. Ou seja, são quase dois anos sem reajuste no custo para uma viagem entre os bairros maceioenses. O valor aprovado agora é de 4 reais e 10 centavos. De fato, o percentual de 12% no reajuste é salgado. Os empresários alegam que a defasagem é profunda.  

Agora vamos falar daquela briga infernal a que me referi no primeiro parágrafo. Claro que o que move a controvérsia é a política. Embora tenha sido aprovado pelo conselho que tem como prerrogativa exatamente a avaliação do tema, meio mundo de autoridades, doutores e políticos se insurge contra o índice. E por que esses senhores estão deveras preocupados com o novo valor da passagem?

Porque estamos em ano de eleição para prefeito da capital alagoana. O primeiro a se manifestar foi o deputado federal João Henrique Caldas, essa incrível renovação da política brasileira. Sempre de olho nas urnas, o rapaz anunciou uma ação na Justiça para barrar o reajuste. JHC, como sabem até as pedras, é candidato à cadeira de Rui Palmeira. Defender reajuste zero é uma boa jogada eleitoral.

Outro que apareceu como defensor dos usuários de ônibus é o também deputado federal Marx Beltrão. Assim como o colega JHC, Beltrão está de olho numa eventual candidatura ao comando da prefeitura de Maceió. O morador da capital não deve se iludir com essas manifestações. A única motivação na cabeça dos valentes é, reitero, a caça ao voto. Fora isso, é um circo de demagogia.

Leio hoje na imprensa que o prefeito Rui Palmeira acaba de se juntar ao bloco dos indignados com o reajuste da tarifa. Alega o chefe da capital que as empresas estão longe de entregar o melhor serviço aos passageiros. Assim, diz ele, não pretende ratificar a decisão do conselho. Pergunto: desde quando o prefeito entende ser de péssima qualidade o transporte coletivo em nossa Maceió?

Palmeira está igualmente preocupado em fazer o seu sucessor. Vivendo uma gestão um tanto tumultuada, para dizer o mínimo, não é boa coisa ser carimbado como o responsável por uma facada no bolso da população. Diante disso, claro que ele partiria para o populismo barato. E é justamente isso o que faz o prefeito no último ano de seu segundo mandato. Em jogo, a sobrevivência política.

Sempre antenado às demandas eleitorais – o que aliás é uma de suas marcas mais perversas –, o Ministério Público Estadual entra em campo com aquela galhardia. Nada de aumento, bradam os doutores da instituição! Alfredo Mendonça, o chefe do MP, é candidato a prefeito desde as eleições de 2016. Já namorou o Senado e o governo, em 2014 e 2018. De novo, está em plena campanha.

Em sua manifestação nesta sexta-feira 10, o prefeito joga a bomba no colo do MP. Diz que recebeu recomendação para sancionar o aumento da passagem – com o aval do Ministério Público. Mas, acrescenta Rui Palmeira, a instituição voltou atrás depois da repercussão negativa da notícia. Agora, fala também o prefeito, deve barrar a nova tarifa, seguindo a posição dos togados do MP.

Toma que o filho é teu. O antigo provérbio da filosofia milenar explica o que se passa com o caso da tarifa de ônibus. Ninguém quer aparecer na fotografia como o pai do aumento de preço. A verdade é que, do mesmo modo, ninguém aí está preocupado com a vida dos alagoanos e forasteiros que vivem em Maceió. Todos, sem exceção, galopam no bonde da mais cretina demagogia.

Enquanto isso, na vida real, o povo vai de ônibus, de bicicleta, na garupa de mototáxi e até de carroça. Eu, de vez em quando, embarco no táxi clandestino, o chamado lotação. É o meio cada vez mais à disposição nas periferias, mesmo sob a fiscalização abusiva, e muitas vezes desonesta, da prefeitura. Mas essa é outra história. Quanto à tarifa, é politicagem em tudo, da catraca à caixa-forte.

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