A professora  universitária Marta Nunes,lá de Santa Maria, no Rio Grande do Sul nos conta essa história...
"Carlos  (nome fictício)é mestiço e  me disse que a esposa era negra como eu, cursava arquitetura também pelo Prouni e que tinham duas filhas, uma mais clara e a mais velha, já no ensino fundamental, mais escura.
Falou sobre o racismo sofrido pela esposa, que não se reproduzia com ele, as vezes "lido" como branco, as vezes como negro (Shoppings e lojas caras).
Me contou que doía muito ver situações que a esposa passava ou como a passada pela filha dele, também bolsista em tradicional colégio particular.
A filha iniciara os estudos recentemente e simplesmente tinha declarado não gostar muito da professora. Eles ficaram intrigados pois viam a menina se esforçar, caprichar nas atividades, enfim era uma boa aluna, não interessava o que ela fizesse, ao final e ao cabo não era digna de um gesto especial que a professora atenciosamente repetia todos os dias nos colegas brancos: um beijo na testa.
A professora nunca (?) foi racista com ela, mas simplesmente não a beijava.
Algum tempo depois, a professora foi substituída por outra, uma professora negra, que beijava e distribuía carinhos a todos, sem distinção.
Carlos* me disse que a filha mudou da água pro vinho. Declarava amor pela professora e ia para a escola cada vez com mais entusiasmo.
Esta menina tem 6-7 anos, recém iniciou a sua caminhada pelo mundo. Ela não consegue elaborar a rejeição e vincular a ausência de um afeto que os outros recebem e ela não ao racismo da professora, ela vai vincular isso a ela mesma, como não merecedora.
Com o tempo, e sem uma orientação próxima, vai concluir que o "problema" é a cor da pele que a diferencia dos demais. Aí chegamos no auto-odio, na baixa auto-estima e por aí vai.
Talvez alguns não acreditem na força destes gestos, ou como a ausência deles nos afeta e diz muito sobre a nossa sociedade...Na educação infantil, meu filho tinha uma professora que penteava e arrumava o cabelo de todas as crianças menos o dele. Ela fez isso comigo em sala de aula! Eu imediatamente busquei a coordenação, ou ela penteava o cabelo de todos ou o de nenhum!
Descobri que varias colegas tinham percebido o (não) gesto, mas ou não queriam se indispor ou passou como normalidade, como esquecimento...
Mas não é acaso, não é preferência é racismo mesmo...isso nos marca, marca os nossos filhos e doi!"

Fonte: Facebook da Marta Nunes

Foto ilustrativa