O dia em que Gugu Liberato gerou uma crise envolvendo TV Globo, TV Gazeta e Gazeta FM

23/11/2019 00:21 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Paulo César Farias, o tesoureiro da campanha de Fernando Collor, morreu em 23 de junho de 1996. Era um domingo. Eu soube da notícia por volta das 13 horas. Como chefe de redação da TV Gazeta, eu estava no plantão do fim de semana. Márcio Canuto era o diretor de jornalismo. Como a gente revezava os plantões no comando dos trabalhos, aquela data era de folga para o grande Márcio. Eu havia saído pra almoçar quando recebi uma ligação da jornalista Cleide Oliveira, a chefe de reportagem, também no batente naquele dia.

No meio da década de 90, Gugu Liberato, que morreu nesta sexta-feira aos 60 anos, curtia o auge do sucesso com o seu Domingo Legal, exibido entre o meio da tarde e o começo da noite. O programa infernizava a Globo, derrotando o Domingão do Faustão, apresentado na emissora dos Marinho. E também ali, naquele dia intenso, o apresentador do SBT incomodou a poderosa rede carioca.

Márcio Canuto, claro, interrompeu a folga e assumiu as operações da cobertura. No meio da correria, falando com gente de todos os lugares, distribuindo equipes que foram convocadas às pressas, buscando informações no meio do caos, sou chamado para mais um telefonema. Era um editor (ou produtor) na redação da Globo. Ele me perguntou se a Rádio Gazeta era do grupo da TV.

Eu disse que sim. Então o jornalista me alertou que a Globo estava “tomando furo” da Rádio Gazeta FM, que estava passando à concorrência dados relevantes sobre a morte de PC Farias. Ou seja, uma empresa que pertencia à afiliada da Globo trabalhava contra a própria Gazeta. O jornalista me perguntou se seria possível fazer algo para conter a sabotagem. Fomos esclarecer a presepada.

O problema para a Globo era que Faustão estava no ar com um programa gravado. Já o concorrente SBT exibia o programa do Gugu ao vivo. À caça de informações sobre a morte de PC, Gugu passou a falar com um locutor da Gazeta FM. O informante da rival era Douglas Lopes, hoje repórter na emissora alagoana. Ele ancorava a programação da FM naquele domingo. E foi um agente duplo.

Douglas passou um tempo precioso sendo “repórter” do Gugu, falando ao vivo, por telefone, para todo o Brasil. Comuniquei o telefonema da Globo ao Márcio Canuto. Ele não contou história: partiu para o estúdio da FM e simplesmente mandou que o intrépido rapaz parasse de atuar como funcionário do SBT. Ocorre que as rádios da Organização Arnon de Mello tinham seu diretor, é claro.

E aí a confusão se estabeleceu. O mandachuva nas Gazetas AM e FM era o radialista França Moura. Ao saber que o diretor de jornalismo da TV havia dado uma ordem a seu locutor, França ficou revoltado. Ele foi bater no comando da OAM, pedindo providências pelo que havia ocorrido. Era um caso clássico de vaidade e disputa de poder entre diretores de um grande grupo de comunicação.

O mal-estar atravessou o resto do domingo, entrou pela segunda-feira e seguiu ao longo da semana. Confrontado por França Moura, Márcio Canuto disse que fez o que tinha de fazer – e faria de novo caso algo parecido voltasse a acontecer. Essa postura do jornalista era incomum na TV Gazeta, onde o “normal” sempre foi a ingerência de setores e nomes estranhos ao jornalismo da emissora.

E foi assim que Gugu Liberato, ainda que sem saber, acabou sendo responsável por uma tremenda crise envolvendo Rede Globo, TV Gazeta e Rádio Gazeta. Tudo isso, em parte, por obra do acaso – que fez a concorrência estar ao vivo enquanto a Globo tinha um Domingão do Faustão gelado. Canuto, França Moura e eu deixamos a OAM faz tempo. Douglas Lopes segue aprontando por lá.

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