Promotora fanática por Bolsonaro simboliza a decadência de uma instituição

04/11/2019 02:56 - Blog do Celio Gomes
Por Redação
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A senhora na foto ao lado se chama Carmem Eliza Bastos de Carvalho. Ela é promotora de justiça no Ministério Público do Rio de Janeiro. Se faltava uma imagem-síntese, um retrato definitivo da indecência na postura de certas autoridades Brasil afora, não falta mais. A foto mostra Carmem Eliza posando nas redes sociais durante a campanha do então candidato a presidente Jair Bolsonaro. Ela veste uma camiseta básica, quase um abadá, com o rosto de seu ideal de político. Jair Messias cativou doutores na instituição.

A promotora do Rio entrou no noticiário de modo barulhento. Como se sabe, ela apareceu numa entrevista coletiva sobre o caso Marielle Franco, depois que a TV Globo revelou o explosivo depoimento de um porteiro que trabalha no condomínio Vivendas da Barra. É o endereço da família Bolsonaro, que tem como vizinhos ilustres milicianos. O presidente virou suspeito no crime.

Bolsonaro, seus filhos, seus amigos como Fabrício Queiroz, todas essas figuras têm uma trajetória de intimidade com o mundo da bandidagem. Os esquemas combinam ações de gabinetes legislativos e domínio de bairros inteiros por meio das milícias. Se Bolsonaro tem algo a ver com a morte da vereadora carioca, somente uma investigação séria poderia esclarecer isso daí.

Poderia. Não se pode prever nada sobre os rumos do caso a partir de agora. Entre outras medidas, além de esculhambar a Globo, o presidente acionou seu vira-lata adestrado, Sérgio Moro, para caçar o porteiro e garantir blindagem a ele próprio, Bolsonaro. Claro que o herói-capacho dos bolsonaristas saiu correndo para cumprir as ordens. Jesus, era esse o juiz “implacável” com criminosos!

Volto à promotora Carmem Eliza Bastos. Depois que suas imagens com Bolsonaro apareceram, ela foi forçada a deixar as investigações do caso Marielle. Segundo a imprensa, a valente admiradora de um fã da tortura não queria sair. Houve bate-boca, gritos e troca de insultos em reunião com seus colegas do MP. Como as fotos são mesmo um vexame, não teve jeito, a doutora acabou saindo.

É o que dá se meter na política partidária com esse nível de engajamento. Tribunal de Justiça, Ministério Público, as forças policiais e demais instituições não servem a governos nem a pessoas. Seus integrantes sabem disso, mas, pelo visto, não estão nem aí para essas “firulas” – éticas e morais – em suas condutas. Agem com a arrogância típica do mais tosco autoritarismo. É a escola Dallagnol.

A promotora se recusava a deixar o caso que tem agora como citado o sujeito que ela trata como ídolo, guru, o mito enfim. Ela acha que está tudo bem com essa promiscuidade exposta assim tão naturalmente. A desenvoltura da rapaziada no MP – federal e estaduais – parece ter varrido até os últimos resquícios de alguma sobriedade. E ainda querem barrar a Lei de Abuso de Autoridade!

Naturalmente, os quadros do MP que não se encantaram com os ideais milicianos de Bolsonaro devem assistir a tudo com certo constrangimento. É o que imagino. Ainda que o efeito Dallagnol tenha potencial de destruição incalculável, claro que há muita gente com a cabeça saudavelmente democrática. É o que imagino também. Afinal, o MP não pode virar repartição a serviço do presidente.

A promotora Carmem Eliza não é um caso isolado. Sua animada militância pró-Bolsonaro não é uma idiossincrasia rara entre os seus. Esse é o problema. A aberração é praticamente uma regra, está no país inteiro, na figura do burocrata, do agente público, da autoridade. Não sabemos a medida exata do desalento especialmente no MP. Fico aqui na torcida pela melhor recuperação. Algum dia.

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