A Gang do Planalto e a milícia virtual

24/10/2019 10:51 - Blog do Celio Gomes
Por Redação
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Agora que virou alvo da quadrilha miliciana instalada no Palácio do Planalto, a deputada federal Joice Hasselmann (foto) denuncia a existência de uma usina de fake news sob o comando dos filhos do presidente Jair Bolsonaro. Segundo ela, são mais de 1.500 perfis falsos nas redes sociais, todos criados para achincalhar qualquer um que atravesse o caminho dos patriotas. Alguns dos pilantras que trabalham nessa imundície já foram expostos em reportagens. Todos sabem o que eles fazem e como operam a máquina.

A coisa é gravíssima, e ainda mais porque os soldados da operação canalha recebem salário do governo, ou seja, são pagos pelo nosso dinheiro. A milícia virtual tem no Carluxo Bolsonaro, o Zero Dois, com sua mente perturbada, o coordenador desse esgoto. O rapaz não faz outra coisa na vida.

Mas a deputada Joice, destituída da liderança do governo no Congresso, após a guerra suja no PSL, não conta a história completa. Se os filhos do presidente estão por trás dos ataques, calúnias e difamações pela internet, o pai não pode ser inocente. Ele é o verdadeiro chefe da gang.

Aliás, chega a ser hilário ver o capitão da tortura acusar a imprensa, especialmente a Folha, de inventar falsas notícias contra ele e seu ridículo governo. O sujeito que é pródigo exatamente no uso de fake news tenta colar no outro a prática de um crime que é sua especialidade. Velha tática.

Mas a deputada poupa o presidente de suas denúncias sobre a tal milícia digital. Ora, isso só é possível com um cavalo de pau na lógica e nos fatos. Se os filhotes aprontam, é porque têm o aval do paizão. Não há como escapar dessa conclusão incontornável. Fake news virou política de governo.

Os criminosos atacam em todas as frentes possíveis. Tentam destruir a reputação de adversários, mas também a dos aliados que não rezem cem por cento na cartilha do presidente brucutu. Um alvo permanente do bando é o Supremo. As ameaças miram os ministros e a instituição como um todo.

Está em andamento no Congresso uma CPI das Fake News. A comissão convocou a própria Joice (e também Carluxo) para prestarem esclarecimentos sobre a bandidagem cibernética. Até agora, os trabalhos na CPI não produziram grandes coisas. E a imprensa também não dá muita bola – ainda.

Isso pode mudar a qualquer momento. Com o perdão pelo velho clichê, reproduzo a sentença tantas vezes lembrada: todos sabem como começa uma CPI, mas ninguém sabe como termina. É sempre um risco para o governo uma investigação desse tipo. E Bolsonaro sabe que não pode vacilar.

O tema é explosivo, com muita gente cheia de informações delicadas. Basta um fato novo, uma virada no vento da conjuntura, e a coisa pega fogo. Do general Santos Cruz a Alexandre Frota, a fila de autoridades no alvo dos milicianos é de uma vasta amplitude. Alguma consequência virá em breve.

A piada que acabo de ler é uma nova proposta do juizinho Sergio Moro, que foi de cabo eleitoral do candidato Bolsonaro a capacho do presidente eleito. Ele quer agora elevar ao extremo a punição para o crime de difamação pela internet. Sobre a quadrilha de seu próprio capitão, nem um pio.

A demagogia barata desse marginal que usava toga é insuperável. É um tremendo caçador de criminosos – desde que estejam do outro lado. Os da sua turma ele trata com a leniência própria dos covardes e dos cúmplices. Fosse pra valer, sua disposição pra investigar e punir começaria em casa.

Um dos meliantes que deveriam ser interpelados na CPI deveria ser o tal Allan dos Santos, o chefão de um site a serviço do bolsonarismo, que espalha mentiras 24 horas por dia contra pessoas e instituições. É um medíocre, um peixe pequeno, disposto a qualquer nojeira em nome do ídolo.

Joice Hasselmann tem razão, ainda que tente livrar a cara de Jair Bolsonaro – e nisso há um cálculo eleitoral. Candidata a prefeita de São Paulo, ela acha que o capital político do presidente é capaz de ajudá-la na caça aos votos. Mas esse é outro departamento. A ver os próximos lances na CPI.

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