A “nova política” naquele país tropical

23/10/2019 12:46 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Era uma vez um presidente da República de um país tropical. Um belo dia, o mandatário acordou e teve uma ideia: daria a um de seus filhotes mais um bife de “filé mignon” como presente de aniversário do rapaz. O mandachuva anunciou então que o presentinho seria uma embaixada – mas não uma embaixada qualquer. Seria a mais importante de todos os países. O anúncio gerou críticas quanto ao despreparo do herdeiro para cargo de tamanha envergadura. Mas de nada adiantou.

Três meses depois do anúncio, o presidente mudou de ideia. Decidiu que o filhote não iria mais ser embaixador naquele país distante, em outro continente. O paizão resolveu que o garoto deveria tomar conta de um partido político, a legenda que foi alugada para servir ao então candidato a presidente. Para isso, teria de aplicar uma rasteira nos atuais comandantes da sigla. E foram à guerra.

Na operação para meter a faca nas costas dos próprios aliados, o presidente foi flagrado num indecoroso telefonema no qual pressionava deputados a apoiarem a aventura do filho. A estratégia, truculenta e cretina, provocou a maior bagaceira na turma que apoia o governo. Em reuniões tensas, houve gritaria, palavrões, xingamentos e ameaças. A deplorável imagem da degradação.

Analistas e palpiteiros da política do país tropical espalham suas opiniões sobre os acontecimentos. Quais seriam as reais intenções da família presidencial ao promover o espetáculo de baixarias e safadezas? Por inocência ou por simpatia aos donos do poder, alguns dizem que tudo isso tem como objetivo o fortalecimento das relações entre o governo e demais esferas da República. Será?

Mais ou menos na mesma linha, outros garantem que o filho do presidente no comando do partido, como líder no parlamento, é um caminho para a “pacificação” entre as forças governistas. O rapaz teria a capacidade de dialogar com as variadas correntes partidárias e ideológicas. Você acredita?

Algumas vozes mais atentas apontam para outra motivação do clã que governa o país. O que explica o empenho para tomar um partido de assalto é o butim que vem junto. A legenda em questão terá nada menos que 359 milhões de reais a seu dispor ao longo de 2020. É grana que não acaba mais.

Nesse caso, parece evidente que é o dinheiro que move o patriotismo do pai, do filho, dos agregados e dos serviçais da família em geral. A origem da fortuna atende pelos nomes de Fundo Partidário e Fundo Eleitoral. Com espírito republicano, que é uma marca do governo, a operação avançou.

Aqueles analistas e palpiteiros tentam entender a combinação entre idealismo, lucro pessoal e dividendos políticos. É que os intelectuais no bolso do governo juram por Nossa Senhora que o presidente inaugurou novo tempo nas relações de poder. Honestidade é a regra. Estamos vendo.

Enquanto isso, o filhote mimado do chefe do Executivo (aquele que seria embaixador) não perde tempo quando a meta é se dar bem. Ele é um craque em múltiplas áreas, com destaque em duas: fabricar fake news e fazer lobby em favor da indústria de armas de fogo. Cidadão exemplar.

E assim vai o país tropical, bonito por natureza e abençoado por Santa Dulce dos Pobres. Dizem que, não faz muito tempo, estrangeiros largavam tudo em seus países e corriam à terra do tropicalismo. Hoje a coisa se inverteu. São os nativos tropicais que estão dando o fora, deixando o abismo para trás.

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