O óleo nas praias do NE, a leniência do governo e a omissão de empresários

21/10/2019 03:42 - Blog do Celio Gomes
Por Redação
Image

Como se as coisas estivessem uma maravilha, nossas praias foram tomadas pelo piche misterioso que, junto com as ondas do mar, quebra na areia. Informa o site do jornal O Globo: Mais de 525 toneladas de resíduos de óleo já foram recolhidas no Nordeste. A coisa foi crescendo rapidamente e logo ganhou ares de tragédia ambiental – o que de fato está caracterizado. Diante do caso, autoridades fazem o de sempre em ocasiões assim: batem cabeça, fogem de responsabilidades e culpam terceiros pelo problema.

Além das consequências nefastas do desastre, é inquietante a postura do governo federal na busca por soluções. É revelador da incompetência oficial o fato de até agora não haver qualquer informação consistente sobre a origem do óleo nas praias nordestinas. A única suspeita nesse sentido foi levantada pelo próprio governo ao apontar a Venezuela como a fonte do grande vazamento.

Entre as últimas notícias que li acerca do assunto, claro que não poderia faltar a troca de farpas entre a turma de Bolsonaro (o presidente “vagabundo”) e governadores dos estados afetados pelo até agora irrefreável tsunami das manchas de óleo. Medíocre e fanfarrão, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, sobrevoa as áreas afetadas, como se passeios de avião resolvessem alguma coisa.

Da parte de nossos governantes locais, a fotografia também não é das melhores. Prefeituras e governo estadual estão perdidos, sem qualquer iniciativa que demonstre capacidade técnica de enfrentar o drama. O que se vê é o trabalho manual de servidores e voluntários na limpeza das praias afetadas. Encrenca adicional é a destinação das toneladas de resíduos retiradas em mutirões.

A inundação oleosa em tantos paraísos à beira-mar, sendo alguns pontos quase desertos, também mobiliza celebridades em redes sociais, como não? A pauta está correndo o mundo como exemplo de mais uma barbaridade na vida brasileira. De Sônia Braga a Vik Muniz, artistas soltam o verbo em elogios aos nordestinos e em críticas à omissão do ridículo governo Bolsonaro. A maré é globalista!

A turma do turismo está preocupadíssima com a inesperada sujeira naqueles paraísos aos quais me referi acima. O pescador teme a incerteza com sua fonte de sobrevivência. Já os ricaços dos hotéis e pousadas exclusivas para a elite fazem as contas sobre perdas na taxa de lucro. É que a turma tem dados que mostram a queda de reservas para visitas ao litoral de Alagoas. E logo no fim do ano.

Não vi nenhum desses megaempresários do turismo vir a público propor alguma forma de colaboração. Nada! O que eles sabem fazer é mamar em subsídios e favores estatais, concedidos à sombra, sem contrapartida ou prestação de contas. Sugam as “belezas” e nada dão em troca.

Esses gigantes da indústria turística alagoana têm seus negócios nos mais badalados pontos do nosso litoral, ao sul e ao norte. Vejam que as praias de Alagoas mais citadas nas reportagens estão na região de Coruripe, de um lado, e de Maragogi e arredores, na outra ponta da faixa. Pegou geral.

A rapaziada que já está ansiosa pelo réveillon teme que a festa seja prejudicada pelas manchas oleosas. Bacanas e subcelebridades nacionais não dispensam a virada de ano em alguma praia de São Miguel dos Milagres – só “Milagres” para os chegados. E hoteleiros querem espantar o prejuízo.

Para fechar, pense o seguinte: se a gente não consegue resolver a poluição das praias urbanas, na capital, e muito menos eliminar o despejo de dejetos feito por prédios de luxo na Ponta Verde, como vencer o desafio do “ataque venezuelano”? Não será com vassouras e pás. Nem com retórica.

Comentários

Os comentários são de inteira responsabilidade dos autores, não representando em qualquer instância a opinião do Cada Minuto ou de seus colaboradores. Para maiores informações, leia nossa política de privacidade.

Carregando..