“Cidadão de bem” e miliciano de estimação

04/10/2019 00:15 - Blog do Celio Gomes
Por Redação
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“Eu não tenho corrupto de estimação”, gostam de relinchar os apaixonados seguidores de Jair Bolsonaro. É uma forma de atacar petistas, esquerdistas e globalistas, três das maiores assombrações no mundo atormentado dos cristãos conservadores. O capitão da tortura que virou presidente também adotou a frase como mantra durante sua patética trajetória no baixo clero da política. Para quem tem saudade da ditadura, é isso aí. Beleza. Pergunto: e milicianos assassinos de estimação, pode isso, Arnaldo?

Parece que sim. A foto que ilustra este texto mostra Bolsonaro feliz da vida, sorridente, fazendo sinal de positivo, ao lado de um cara saudável, gente boa, desse tipo que você convidaria para uma cerveja. Será mesmo? O sujeito reverenciado pelo “mito” se chama Josinaldo Lucas Freitas, mais conhecido como DJaca. Probleminha: o rapaz foi preso nesta quinta, suspeito de algo nada bonito.

Djaca foi apontado pela polícia como um dos envolvidos no assassinato da vereadora Marielle Franco. Ela foi executada no Rio de Janeiro ao lado do motorista Anderson Gomes, em março do ano passado. As investigações sofreram vários reveses e até agora o crime não está esclarecido. A prisão de Djaca e outras figuras reforça uma das linhas de apuração do caso, mas é preciso esperar mais.

A foto acima não é caso isolado nas relações do presidente e família com personalidades do submundo carioca, digamos assim. Há outros registros do rapaz ao lado do capitão e, claro, posando com o vereador Carlos, o Zero Dois. Como se sabe, Carluxo tem uma estranha fixação: ele adora homenagear, com medalhas e comendas, policiais homicidas e integrantes de milícias.

Bolsonaro e bolsonaristas acham que milicianos têm um papel relevante na política de segurança. Uma das coisas que mais irritam o presidente é essa mania de punir policiais matadores. Segundo essa visão de mundo, os rapazes que integram grupos de extermínio substituem a falta de policiamento oficial. Se o Estado falha, a milícia resolve a parada de modo exemplar.

Leiam o que informa a Veja sobre Djaca, o parça de Bolsonaro na foto em questão: “O professor de artes marciais vive e dá aulas na região de Rio das Pedras e Muzema, zona oeste do Rio, onde ficam favelas dominadas por milicianos. Em suas redes sociais ele já postou panfletos que fazem propaganda de um serviço de transporte de passageiros apelidado de Uber da Milícia.

Bandido de estimação? É o que indica a incrível intimidade entre o presidente da República e a rapaziada do fuzil. Que coisa, não é não? Imagino o malabarismo verborrágico a que os doentinhos da seita precisam recorrer pra explicar essas afinidades eletivas do salvador da pátria. Já pensaram o que esses santos estariam a dizer caso o parceiro do miliciano da foto fosse um tal Lula da Silva?

Aqui por Alagoas há gente de peso que também vê na existência de milícias algo necessário no ambiente social. É, meu amigo, há jornalistas e até autoridades que embarcam nessa tese de maneira apaixonada. Claro que não assumem explicitamente isso, mas deixam evidente o que pensam em situações concretas no âmbito da segurança pública. E olhe que é tudo “cidadão de bem”.

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