Vanderlei Lourenço, o presidente da Fundação Cultural Palmares, apoiador e participante do"Papo Preto de Poesia com Jovens da Periferia" um encontro que reuniu as gentes, na tarde/noite de sexta-feira,27/09, no Mirante do Jacintinho, bairro periférico de Maceió, para divulgação dos selecionados no "Odo-Concurso Preto de Poesia para Jovens da Periferia.Iniciativa do Instituto Raízes de Áfricas, apoiado pelo Governo do Estado,através da SECULT,SECOM,SERIS,SEPREV.
E Vanderlei, escreve:
"Noite de sexta-feira e uma leve ventania no mirante. O Mirante do Jacintinho é o lugar mais propício para fazer brotar na gente a emoção. No palco, música. Na platéia una série de rostos pretos e jovens. Meninos tímidos da periferia, daqueles que passariam invisíveis por mim, ou por você, no afobamento da cidade grande.
Meninos poetas! Como assim, como ousam esses meninos, como ousam pensar.?
Pior: ousam desenhar versos no papel. Versos urgentes, pungentes. Versos que não querem fazer concessão.
Eu estava a um passo, ou a uma ventania de ter um verso desses rasgando ao meio a minha mente ,e brotando de forma ardida do meio da minha miopia.
Ouvi o protesto e a denuncia desses meninos mal começados na vida e lançados na pouca perspectivas de futuro. O canto da menina preta, orgulhosa da sua descendência guerreira.
Surpresa. Impacto. Admiração.
Que jovens são esses, meu Deus! Que seu povo piedoso não vê? Que o sistema não vê. Que os seus iguais não vêem. Que eu não vejo. Ou vejo sem enxergar, pois, a essa altura, atarantado com a verdade versejada na minha cara já não sei o que dizer.
Melhor não dizer. Sobretudo quando a menina empresta sua voz a um meninozinho tímido, para gritar ao Mirante, a Alagoas e ao mundo a sua pergunta sem resposta: eu sou bandido 157? Eu sou bandido 157? Eu sou bandido 157?
Já não sei mais onde esconder a miopia, o astigmatismo rasgado e ardendo meu rosto inteiro. Não sei esconder essa dor que sempre dói diante da televisão noticiando jovens mortos na nossa violência cotidiana e se acomoda no instante seguinte porque a vida tem outras urgências.
Esse barato é um rasgo que expõe a minha covardia e a minha fraqueza. E eu vou embora escondido dentro de mim, rezando. Não pelo sem número de meninos e meninas que rodeiam todo mundo e todo mundo não vê. Mas por todo mundo que é visto e que agora enxergo em toda essência da sua falta de compaixão.
Você não é, meninozinho tímido, preto, da periferia de Alagoas, bandido 157.
Aborrecido dentro de mim, eu rogo para que essa verdade cravada se transforme em negativa perene na vida de todos os seus, meus iguais.
A gente tem coisa demais a aprender com vocês."