Poder, Política e ataques à Imprensa! Por que Renan Filho não é Jair Bolsonaro

06/08/2019 16:21 - Blog do Celio Gomes
Por Redação
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Episódios de atrito entre autoridades públicas e jornalistas fazem parte da paisagem. Basta olhar nas redondezas, e facilmente encontraremos algum figurão no ataque a um profissional do jornalismo. Poder versus Imprensa. A verdadeira guerra, que jamais viu tempos de trégua, nasceu nos primórdios da invenção da notícia. Mais ou menos assim... Se a imprensa surge com a missão de fiscalizar e denunciar poderosos, sobretudo os governantes, então impossível não incomodar.

E o governador Renan Filho (foto) parece mais que incomodado com a Gazeta. O antigo diário (hoje publicação semanal) tem mirado sistematicamente o desempenho da máquina estatal, batendo em todas as áreas da administração, especialmente saúde e segurança. Nesta segunda-feira 05, Renanzinho usou termos agressivos para se dirigir ao repórter Arnaldo Ferreira.

A solidariedade ao profissional se impõe. O governador telefonou para o jornalista, como já informou o CADAMINUTO, e pediu desculpas pelo acontecido. Foi uma decisão sensata, a sinalização de que a Renan Filho não interessa estimular essa “agenda”. A coisa deveria acabar aí.

Vejo na Gazetaweb abordagem extravagante a esse choque entre Arnaldo Ferreira e o chefe do poder executivo. A linha editorial não pode atravessar a fronteira que separa reportagem e proselitismo. Não estou dizendo que é esse o teor dos textos que levaram à ira do mandatário.

Não se pode fingir, porém, que inexistem componentes políticos nas origens desse entrevero, materializado na fala do governador. Deve-se ainda calibrar devidamente os fatores envolvidos, para se entender o que está em jogo. Tem muita fumaça em algo a ser superado sem drama.

Falo sobre essas coisas na maior tranquilidade. Estive lá, na Gazeta, como editor de política e, na sequência, tocando a Redação como editor-geral, durante oito anos. Pautei e editei incontáveis reportagens assinadas pelo mesmo Arnaldo Ferreira que está agora no lead na notícia.

O profissional tem experiência de sobra. Trabalhei com ele também na TV Gazeta, entre 1991 e 2001. Arnaldo já viveu todo o tipo de situação – na rua, à busca de informações, ou nos embates internos, com editores e chefes. Para ele, o que houve agora não deve representar novidade.

Reitero o apoio e a solidariedade ao jornalista. O governador cometeu um erro. Sendo um ataque a um repórter, foi uma falha grave. Não resta dúvida quanto a isso. É bom que Renanzinho tenha reconhecido o avanço do sinal, pedindo desculpas ao repórter, horas depois da fala descabida.

Faço questão de registrar o seguinte: ofensas a jornalistas (ou à imprensa em geral) não fazem parte do histórico do governador, em sua trajetória de homem público. Não procede a comparação com o padrão de Bolsonaro, um notório agitador de falanges contra a liberdade de imprensa.

Vale lembrar que, na Secretaria de Comunicação, o governador conta com um time de primeira. Tem gente de talento e mente saudável. E no comando da pasta, o jornalista Enio Lins, que é, além de um mestre na matéria, a antítese perfeita ao mais remoto rascunho de intolerância.

Tendo acenado em nome da paz, ao ligar para Arnaldo Ferreira, Renan Filho foi rápido na decisão de admitir ter pisado na bola. Um gesto que o presidente do país jamais faria. Ao contrário, o capitão se esforça em degradar cada vez mais as bases das relações civilizadas. Não tem volta. 

Se o Brasil está sob ataque ininterrupto às liberdades, patrocinado pela seita do bolsonarismo, não é algo replicado pela esfera do poder estadual em Alagoas. Muito longe disso, ainda bem. Acho que concordamos (o Arnaldo Ferreira incluído) que Renanzinho não é o Jair. Não até agora.

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