O jogo duplo no Ministério Público de Alagoas

05/07/2019 02:19 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

O Ministério Público de Alagoas está com um comando interino. Márcio Roberto Tenório de Albuquerque assumiu o lugar do procurador-geral de Justiça, Alfredo Gaspar de Mendonça, que saiu em licença. Em busca de notícia sobre a novidade, fui ao site da instituição. Estranhamente, por lá não há nada sobre a licença do Doutor Alfredo. Para quem vive a cobrar transparência de todo mundo, parece contraditório que o cidadão não seja informado sobre a mudança no órgão.

Como o MPE não conta para nós os motivos da licença do procurador-geral, fui ao velho Google para ver se havia saído alguma notícia da qual eu não tivesse tido conhecimento. Cheguei ao blog do jornalista Edivaldo Júnior na Gazetaweb. Segundo ele, Mendonça foi a Brasília tratar de negociações políticas, de olho na eleição do ano que vem para prefeito de Maceió.

O comandante licenciado está costurando sua filiação partidária. Digamos que ele está num momento de prospecção, em busca do partido que melhor traduza os nobres valores da vida pública. O problema é essa perigosa mistura do trabalho no MP com demandas partidárias de seus integrantes. Hoje em dia, não espanta que assim seja. As coisas estão de cabeça pra baixo.

Alfredo Gaspar de Mendonça quer ser prefeito da capital alagoana. É uma fixação existencial. Seu discurso ao eleitorado, não é segredo pra ninguém, reproduz essa temática única que embala a mesma seita que elegeu Jair Bolsonaro. Numa campanha, o homem vai aparecer como o xerifão que prende e arrebenta. É a salvação do maceioense para combater os bandidos e a corrupção.

O chefe do MP é fã de Sergio Moro e Deltan Dallagnol, a dupla que trata os códigos legais e a Constituição como entraves para a missão divina da qual se sentem os escolhidos para cumprir na Terra. É tudo gente cansada dessa velha política e que decidiu inaugurar um novo tempo entre nós. A encrenca, reitero, é tocar esse jogo duplo – atuar no MP e negociar candidatura.

Fato é que as eleições ocorrem daqui a um ano e três meses. Se for candidato, Mendonça deve sair do cargo somente já no ano da disputa, seguindo o que determina a Justiça Eleitoral. Até lá, não me parece saudável que tenhamos como procurador-geral alguém que, no cargo, toque duas agendas simultâneas – a do interesse público e a de seus interesses particulares. Aí é conflito.

Na posição que ocupa, Mendonça tem o poder de investigar agentes do mundo da política. Não é incomum que ele apareça falando desse ou daquele político investigados pelo MP, posando de paladino da moralidade, na cola de prefeituras, por exemplo. Tenho a impressão que, na condição de virtual candidato, essa postura fica seriamente prejudicada. Ou ele é político ou é fiscal da lei.

Pra fechar, volto ao site do MP. Até o momento em que escrevo, a principal notícia ali mostra uma foto do procurador-geral no exercício do cargo, Márcio Roberto, ao lado do promotor Flávio Costa. Os dois trajam uma camiseta com dizeres que exaltam, olhem só, o “combate à corrupção”. A mensagem é pura maquinação de marqueteiro eleitoral. A política pauta a agenda dos doutores.

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