Greve dos jornalistas: nota das empresas combina cinismo e desinformação

03/07/2019 12:32 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Os três maiores grupos de comunicação de Alagoas divulgaram nota sobre a greve que atinge mais de noventa por cento da imprensa estadual. Você pode conferir o teor do texto aqui mesmo no CADAMINUTO, que publicou reportagem sobre o assunto, trazendo a reação do Sindicato dos Jornalistas. O que está no comunicado das empresas é uma mistura de cinismo e desinformação. Nada além. O texto tenta jogar nas costas da categoria a culpa pelo impasse instalado.

Assinam a nota dos patrões a Organização Arnon de Mello (Gazetas), o Sistema Opinião de Comunicação (TV Ponta Verde) e o Pajuçara Sistema de Comunicação (TV Pajuçara). Esses grupos têm ainda sites e emissoras de rádio. A nota das empresas foi divulgada primeiro na noite desta terça-feira, ou seja, no chamado horário nobre, na faixa de maior audiência das televisões. Com isso, o patronato tenta impor ao grande público um trololó distante da realidade factual.

É uma velha operação. Enquanto distorcem os fatos, os donos desses veículos acusam a categoria pelo delito que eles mesmos cometem. Ao contrário do que afirma a nota dos empresários, eles querem sim reduzir o piso salarial dos jornalistas em nada menos que 40%. É um sonho dourado dessa gente – e não é de hoje, como já escrevi aqui. Trata-se de uma ideia fixa, que ao longo dos anos embalou projeções de executivos e diretores comerciais. Agora, a crise explodiu.

A nota oficial dos veículos diz no começo – e reafirma no fim – que “não é verdade que as empresas querem reduzir o salário dos jornalistas”. Dessa forma, garante o enunciado, um valor abaixo do piso será apenas para as novas contratações. Quem está no emprego agora não será afetado por isso. É brincadeira! Claro que, uma vez implantada a faixa bem abaixo do atual piso, em dois tempos todos os profissionais hoje nas empresas estarão demitidos. É escancarado!

Não há garantia nenhuma de que as empresas manterão os empregos de todos os jornalistas atualmente contratados. Pela nota publicada, os barões fingem que estão propondo uma espécie de plano de cargos e salários. Mas isso não passa de uma tentativa de enganar a Justiça do Trabalho. Ao longo de décadas jamais tiveram essa iniciativa, transformando, como tanto já se escreveu por aí, o piso em teto. Não seria agora, acossados, que iriam adotar o caminho virtuoso.

Finalmente, a nota conjunta das três maiores fortunas das comunicações em Alagoas revela que estamos longe de um acordo, de um desfecho para a greve que já passou de uma semana. Revela também, além da intransigente postura desses senhores, a naturalidade com que distorcem um notório conjunto de fatos. Com esse tipo de conduta, sabe-se lá o que pode acontecer. Parece evidente que os tubarões estão mais unidos do que nunca. Querem ganhar no rolo compressor.

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