A Globo na greve da imprensa de Alagoas

28/06/2019 05:15 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

A greve dos jornalistas de Alagoas atinge a quase totalidade dos profissionais nas redações dos veículos de comunicação. E, como se sabe, as três empresas que contam com emissoras de TV são os grandes alvos do movimento. A proposta de redução de 40% no piso salarial da categoria é patrocinada sobretudo por esses três grupos. São eles a Organização Arnon de Mello (TV Gazeta), o Pajuçara Sistema de Comunicação (TV Pajuçara) e o Grupo Opinião (TV Ponta Verde). Mas há um aspecto bem peculiar acerca de uma dessas TVs, quanto aos efeitos na administração do negócio.

A TV Gazeta é afiliada da Rede Globo – e isso faz com que a greve tenha um ingrediente a mais nessa televisão. A rede das Organizações Roberto Marinho emplacou, desde a década de 1970, uma relação com suas afiliadas que nenhuma outra rede conseguiu reproduzir. Há um controle descomunal da Globo sobre a afiliada, algo que o telespectador nem imagina a real dimensão.

Reproduzir a programação da rede está longe de ser o principal compromisso da empresa estadual com a gigante controladora de tudo. A Globo delibera sobre o conteúdo e a forma de toda a programação local. Um exemplo estupidamente óbvio: todos os telejornais nos estados adotam o mesmo cenário e programação visual. As vinhetas são as mesmas. Você acha isso normal?

A Globo também está ligada a afiliadas como a TV Gazeta pelos interesses financeiros. As contas do departamento comercial em Alagoas têm conexão direta com a central no Rio de Janeiro. Escrevo tudo isso a partir de minha experiência concreta. Durante dez anos fui editor, chefe de redação e diretor de Jornalismo na empresa da OAM. Vi de perto esses procedimentos de controle da Globo.

Essa situação faz com que na TV Gazeta a greve provoque um estrago de outra ordem, e mais complicado, do que nas demais empresas. É uma encrenca a mais – e que encrenca! – para a direção-executiva da OAM, que tem de administrar diretamente a crise. A essa altura da confusão por aqui, a pressão da rede deve estar nas alturas. O que pode acelerar um desfecho. Ou não.

Acabo de ver na coluna Radar (Veja) uma nota sobre o senador Fernando Collor e sua postura diante da paralisação dos profissionais da OAM: “Hoje, a maior dor de cabeça ao encastelado ex-presidente é a greve dos jornalistas da TV Gazeta”. Quanto mais a greve perdurar, mais notícia deve aparecer na imprensa nacional – o que deixará a Globo mais incomodada e na pressão sobre a afiliada.

Resumindo, para a TV Gazeta, o componente político é o dado mais explosivo na greve. É algo que extrapola as divisas da província e tem potencial para legar irreparáveis sequelas – ou quase isso. É o preço da dependência canina que a afiliada tem da rede. Esse tipo de relação – contratual – existe entre as outras TVs e suas redes. Mas com a Globo a coisa bateu na licença poética.

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