Jornalistas em greve pisam feio na bola! Apresentadora é alvo de intimidação

27/06/2019 03:44 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

A greve dos jornalistas de Alagoas entra no terceiro dia nesta quinta-feira 27/06. Já tratei do assunto em texto anterior, no qual falo do meu apoio ao movimento – como não poderia deixar de ser diante da proposta absurda das grandes empresas que pretendem reduzir o piso salarial da categoria em 40%. Concordar com o movimento, porém, não significa aprovar métodos abusivos de mobilização.

Escrevo isso depois de ver um vídeo gravado na portaria da TV Gazeta. As imagens mostram um grupo de grevistas tentando abordar pessoas que estão num carro que deixa a emissora. Há uma tremenda confusão, com o veículo sendo cercado aos gritos pelos manifestantes. O alvo da ação na verdade é a jornalista Sofia Sepreny, que é apontada pela categoria como “fura-greve”.

A revolta dos profissionais contra a jovem é porque ela está apresentando o AL-1, o telejornal da TV Gazeta que vai ao ar diariamente a partir do meio-dia. A jornalista está substituindo a titular do programa, Thaise Cavalcante, que deixou o posto desde o primeiro dia da greve. O vídeo mostra que Sofia está saindo da TV num carro de segurança particular, já para prevenir ataques contra ela.

É claro que o episódio é deplorável para a empresa, que tem de chegar a esse ponto para levar ao ar um telejornal completamente desfigurado, com reportagens produzidas por afiliadas da Globo de outros estados. Sim, é patético que o maior grupo de comunicação de Alagoas tenha de recorrer a esse expediente para enfrentar a greve. Mas nada justifica a demonstração de violência contra Sofia.

Nas imagens, pode-se ver que o carro, para escapar ao cerco na porta da emissora, invade a calçada e avança pela contramão. Faltou pouco para um acidente. Foi o momento mais tenso da paralisação que atinge, segundo leio no CADAMINUTO, mais de noventa por cento da imprensa alagoana. Mas as cenas, que correm nas redes sociais, também não são das melhores coisas para colegas grevistas.

Na gritaria, o grupo força passagem para chegar ao veículo. Pergunto: caso tivessem obtido êxito e alcançado a agora apresentadora, os revoltosos pretenderiam fazer o quê? Partiriam para o linchamento em via pública? Ou ficariam numa “lição de moral” contra quem eles julgam ser uma pelega? Calma lá, rapaziada. O direito à greve é tão legal quanto o direito de querer trabalhar.

Além da truculência inaceitável, aqueles que não aderiram ao movimento não podem ser os alvos dos jornalistas que deixaram seus postos para lutar pela causa que consideram justa. Quem precisa pagar essa conta são os patrões. Você pode se sentir indignado diante de colegas que não cederam à paralisação. Pode criticá-los, mas daí apelar à intimidação é também um absurdo.

Há outros jornalistas que “furam” a greve, inclusive gente veterana na profissão, bem conhecida de todos nas redações alagoanas. Até onde sei, nenhum deles está sendo tratado com a fúria destinada à Sofia. O fato de ser mulher tem a ver com isso? Segundo notícia publicada num site nacional, ela saiu do Instagram depois dos ataques que recebeu por causa de toda essa situação.

Sei que este texto não terá boa avaliação na categoria, sobretudo entre os mais engajados. Nessas horas, fica bem na foto todo aquele que dá apoio incondicional a uma mobilização de forte apelo. Aliás, é o que se vê até entre os políticos alagoanos, que não desperdiçam uma chance de pegar carona em causas que julgam render holofotes. Lamento. Minha solidariedade à Sofia Sepreny.

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