Jornalistas, Ratinho, Zorra e Sergio Moro

17/06/2019 01:55 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

1. Deve ser uma angústia e tanto defender o indefensável. É a via-crúcis pela qual estão passando hoje em dia os “cidadãos de bem”. Ao longo de cinco anos, se apaixonaram pelos superpoderes do doutor Moro, mas agora descobrem que o campeão da ética é só um delinquente que viola as leis em nome de interesses vagabundos. Nas redes sociais do CADAMINUTO, minhas opiniões estão na mira dessa tropa, que se vê obrigada a remelexos retóricos pra me contestar. Eu entendo a revolta.

2. O jornalismo do Grupo Globo ainda cobre o escândalo do juizinho de Curitiba de maneira enviesada – para dizer o mínimo das reportagens vistas no Jornal Nacional e nas páginas do jornalão carioca. A ênfase da rapaziada tem sido a “terrível ação de hackers contra autoridades”. É quase comovente o esforço para poupar Sergio Moro e Deltan Dallagnol, a dupla mais desmoralizada do Brasil nos dias de hoje. A estratégia é um perigo e tem tudo para acabar num abraço de afogados.

3. A revista Veja – sempre controversa, mas para mim nunca dispensável – deu a Moro uma capa devastadora. A reportagem tem o “gancho” honesto que ressalta a gravidade do conteúdo dos diálogos, e o editorial não deixa dúvida de que o então juiz agiu fora da lei. Além disso, em sua coluna, Roberto Pompeu de Toledo, em mais uma aula de texto, é implacável em sua análise dos fatos. Resumindo, nas páginas da publicação o caso é tratado como um crime de estarrecer.

4. Até uma semana atrás, doentinhos e abestalhados do bolsonarismo adoravam acusar qualquer crítico de estar a serviço de “bandido de estimação”. Foi mais um dos mantras vendidos pela turma da Lava Jato à manada de otários que engole qualquer baboseira. Aqui mesmo em Alagoas a expressão caiu nas graças de figurinhas e figurões do jornalismo, do mundo jurídico e do meio empresarial. Parece que mudaram de opinião e adotaram, numa tacada só, dois bandidaços.

5. Se o pessoal do departamento de jornalismo na TV Globo amacia para Moro e sua gang, a galera do humor na casa vai em outra pegada. A essa altura você já sabe do vídeo que viralizou na internet com um quadro do Zorra, o programa dos sábados à noite. Como diriam os locutores de futebol, quase sempre antenados com o passado mais remoto, roteiristas bolaram uma paródia com requintes de crueldade: Moro e Dallagnol foram triturados ao som de Chico Buarque, o comunista.

6. Para provar que é um homem santo, o ministro da Justiça está com entrevista marcada para o Programa do Ratinho, no SBT. É o palanque ideal ao jurista e intelectual que fala “conge” e escreve “testo” na tese de doutorado. Por coincidência, o jornalista Lauro Jardim revelou neste domingo que o apresentador e a emissora foram condenados por espalhar uma fraude contra dois padres do Paraná. Terão de pagar 400 mil reais às vítimas da safadeza. Ratinho & Moro: papo entre cidadãos ilibados.

7. Diogo Mainardi na Globonews, Augusto Nunes na Jovem Pan, Carlos Sardenberg em O Globo e Fernando Gabeira no Estadão garantem: não há nada demais nas conversas secretas da Lava Jato. O partidarismo e o ódio contra o “cachaceiro Lula” levam o sujeito às raias da alucinação. Na Folha de S. Paulo, Demétrio Magnoli, Elio Gaspari e Jânio de Freitas, na contramão do quarteto citado, explicam por que estamos diante de uma vasta delinquência. Cada um escolhe como zelar por sua biografia.

8. E o Judiciário com isso? Escolherá a lei e a decência ou vai meter a toga na lama? Ricardo Noblat, da Veja, diz tudo no Twitter: Num país sério, altos escalões da Justiça já estariam examinando a hipótese de anular o julgamento de Lula com base nas conversas entre Moro e procuradores. Se novas conversas agravarem o caso, a anulação será inevitável – a não ser que a Justiça prefira descer ao esgoto. Digo eu: em breve saberemos se o STF tem alguma seridade ou transa um lamaçal.

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