Caso Moro: a verdade derrota a indecência

16/06/2019 04:59 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

É, meu camarada, a vida é um redemoinho. O mundo gira, a maré mansa de repente sobe e produz devastações; a praga destinada aos outros volta para o dono; o vazio fica cheio (ou o contrário) e, como se sabe, o pra sempre, não esqueçamos, sempre acaba. É como diz o povo nas quebradas: a verdade demora a aparecer, demora muito, demora quase uma eternidade, demora mais um pouco, mas, um dia, ela chega. E aí chegou a hora de Sergio Moro e Deltan Dallagnol acertarem as contas com as verdades que não param de desabar sobre suas cabeças perturbadas. A dupla está na lama.

As delinquências do ex-juiz e seu parça, o procurador das “bochechas rosadas”, ganham, quase a cada dia, novo capítulo. O Brasil deve essa revelação ao trabalho de um jornalista americano, um cara que ao invés de servir de instrumento para propagar e legitimar as violações da Lava Jato – como se viu praticamente em toda a imprensa brasileira por cinco anos –, fez o contrário: rasgou a fantasia dos heróis justiceiros e mostrou que era tudo uma farsa com objetivos politiqueiros. Um golaço.

Glenn Greenwald, editor do site The Intercept, sabe que precisa tomar cuidados extremos. A turma de Bolsonaro não brinca em serviço. Há uma ofensiva em múltiplas frentes para calar o jornalista. Além dos fanáticos seguidores da seita que governa o país, essa horda que prega o extermínio de qualquer um que ouse criticar o “mito”, há o aparato oficial. A essa altura, o ministro da Justiça busca desesperadamente caminhos “legais” para esmagar o site e seus editores e repórteres.

Dar aparência de legalidade a atos arbitrários, como está provado pelos diálogos revelados, é a especialidade dos operadores da Lava Jato. Foi assim que eles conseguiram atropelar os ritos do processo judicial para incriminar quem eles queriam. Não bastasse isso, para completar a obra, também conseguiram a façanha de aparecer ao mundo como salvadores da pátria, gente do “bem”.

Este blog começou em 2017. Nos arquivos, o leitor pode conferir como tratei aqui, ao longo desse tempo, o circo falacioso de Moro e procuradores aloprados, que venderam a imagem de cavaleiros destemidos no “combate à corrupção”. Essa coisa bizarra de adular poderosos como se fossem deuses, seres de perfeição, homens dispostos a tudo para instalar o céu na terra, não é comigo.

Moro, Dallagnol e até Bolsonaro, vejam só que hilário, dizem agora que o jornalismo do The Intercept é um “ataque às instituições”. Somente o cinismo explica uma hipocrisia dessas. Foram eles que rasgaram a Constituição, o Código Penal e mais uma penca de regras miseravelmente ignoradas, tudo em nome de suas convicções desonestas. É o legado de uma quadrilha que veste toga.

Pois então. Eis que nossas instituições têm uma oportunidade e um desafio que se resumem no seguinte: ou o Brasil recorre à verdade dos fatos, para varrer as pilantragens desses senhores, ou deixa tudo como está e confirma o estado de indecência que implantaram. Sobretudo ao Supremo Tribunal Federal cabe escolher entre a coragem e a covardia – e daí entre o certo e o errado.

Comentários

Os comentários são de inteira responsabilidade dos autores, não representando em qualquer instância a opinião do Cada Minuto ou de seus colaboradores. Para maiores informações, leia nossa política de privacidade.

Carregando..