Deputados estaduais defendem o faroeste de Bolsonaro! É nossa tradição de pistolagem

23/05/2019 03:37 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Leio aqui no CADAMINUTO reportagem da jornalista Vanessa Alencar sobre um debate que dominou a sessão desta quarta-feira na Assembleia Legislativa de Alagoas. O tema foi o decreto presidencial que avacalha as regras para a posse e o porte de arma no Brasil. Como se sabe, o texto do governo amigo de milícias liberava até a venda de fuzil. A deputada Jó Pereira levantou a discussão, fazendo críticas ao liberou geral previsto no decreto. Colegas da parlamentar não gostaram nem um pouco.

A reportagem reproduz frases de deputados que apartearam Jó Pereira para contestá-la. Em poucas palavras, é um festival de boçalidade e estupidez para defender o faroeste pretendido pelo presidente da República que idolatra torturador. Cabo Bebeto, Bruno Toledo, Francisco Tenório e Galba Novaes são nomes citados no texto da jornalista. Para rebater os sensatos argumentos da deputada, o quarteto fantástico disparou a esmo, sem medo do ridículo. Sobrou até para Karl Marx.

Sim, você leu certo. Para um dos legítimos herdeiros dos engenhos de açúcar, Bruno Toledo, essa história de desarmamento e combate à circulação de armas é o seguinte: “Isso vem de Marx, replicado por Stalin”. Ele falou sério! O autoproclamado liberal e conservador ainda jogou no mesmo balaio Nicolás Maduro e a Venezuela. Parafraseando o grande João Guilherme, narrador esportivo da FOX, eu só acredito porque estou lendo. Toledo é um dos mais eruditos lá na Assembleia.

Para completar sua cosmopolita visão de mundo e conhecimento da história universal, Toledo fechou com brilhantismo a aula sobre armamento e faroeste: barrar o armamentismo ao “cidadão de bem”, garante o ilustrado rapaz, é uma trama de “governos socialistas”. Como se vê, as lições de cidadania do clã bolsonarista fizeram a cabeça de nossos homens públicos mais preparados. Fiquei curioso por mais detalhes sobre as fontes científicas dessas ideias tão inovadoras. Mas desconfio da origem.

Já o Cabo Bebeto, eleito pelo PSL do Messias – o amoral e inculto presidente –, tem uma visão mais jogo bruto, por assim dizer. Sua principal declaração no debate da Assembleia foi “anunciar” que ele mesmo não vê a hora de comprar seu fuzil particular e personalizado. Esse tipo de postura é o retrato fiel do que há de mais desprezível no desastre que hoje governa o país. Aí é caso perdido.

Galba Novaes foi um pouco mais comedido, mas não menos equivocado ao expor o que pensa do assunto. Disse estar arrependido de uma lei municipal de sua autoria, quando era vereador, que proibiu o comércio de armas esportivas na capital alagoana. Tarcizo Freire e Cibele Moura também engrossaram o pelotão de fuzilamento para fulminar a simples reflexão proposta por Jó Pereira.

E não poderia faltar a voz de um dos maiores especialistas na causa, o deputado Chico Tenório. Ex-delegado da Polícia Civil, ele já passou uma temporada na cadeia e foi obrigado a usar tornozeleira eletrônica, suspeito de atos que não combinam muito com princípios pacifistas. A experiência parece não ter alterado em nada a índole do notório político. Está claro que ele segue na “linha dura”.

É emblemático que o parlamento alagoano seja o espaço de toda essa demente discurseira. A história do país registra que aquela casa já foi palco de troca de tiros e morte, em 1957, num dos episódios mais traumáticos da vida pública no estado. Faz tempo, é verdade, mas a herança de sangue ainda hoje deve inspirar muita gente por ali. Pistolagem, jagunços, emboscadas... Esses são arquétipos que ajudam a entender a velha Alagoas. Nossa tradição não é para os fracos.

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