Braskem tem de pagar a conta da tragédia

20/05/2019 04:26 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Quantos postos de trabalho a Braskem garante em Alagoas? Qual o tamanho da contribuição da empresa em impostos para os cofres públicos? São essas as duas questões citadas pelos diretores da empresa para defender sua relevância na economia alagoana. Segundo essa versão, se a indústria deixar o estado, será uma verdadeira tragédia para todos nós. Nunca mais teremos nada como essa potência empresarial que tanto desenvolvimento trouxe para cá. Não se pode perder essa maravilha.

Será tudo isso mesmo? Na verdade, ninguém sabe a resposta – e ninguém sabe por uma razão tão elementar quanto misteriosa: os números e as cifras da megaempresa estão numa caixa preta. Tudo o que sabemos é fruto de marqueteiro, esse tipo de especialista em inflacionar supostos grandes feitos e apagar as piores safadezas dos patrões. Em outras palavras, quando a Braskem fala em “transparência” no caso do Pinheiro, estamos diante de tudo, menos de uma postura transparente.  

Essa discussão – que privilegia aspectos econômicos – não passa de um embuste. Que conversa é essa? É uma forma de desviar o rumo da prosa que de fato importa. Milhares de empregos? Quantos trabalhadores? Arrecadação milionária de impostos para o estado? Quais os valores? A economia é dinâmica e as coisas mudam. O estado não pode ficar refém de uma falácia dos senhores que exploram o território alagoano como se fossem donos do pedaço por herança natural. Não dá.

A cantilena dos executivos da Braskem, cheios de títulos desses cursos pra enganar otários à procura de gurus do mundo da fortuna, lembra a pilantragem dos velhos usineiros. Ao longo de décadas, os herdeiros dos senhores de engenho, escravocratas de raiz, recorreram ao mesmo discurso acanalhado. Meu Deus, o que será da pobre Alagoas sem a vigorosa produção das usinas que sustentam a vida dos alagoanos? Balela. Mesmo com tramoias, quebraram quase todas.

Repare só: cerca de 20 mil pessoas tiveram sua rotina virada de cabeça pra baixo do dia pra noite. Famílias inteiras são vítimas de uma barbaridade patrocinada por uma indústria bilionária. Elas têm o direito inalienável de uma reparação, urgente e à altura dos danos que agora infernizam suas vidas. É criminoso que sejam preteridas em nome da saúde financeira daqueles que provocaram esse terremoto para tanta gente. A postura da Braskem é um disparate desde que tudo isso veio à tona.

Reitero então o que já escrevi em outro texto. O governo estadual e a prefeitura de Maceió não podem assistir de braços cruzados ao espetáculo fraudulento da gloriosa Braskem – aliás tão querida por advogados e jornalistas que andam por aí a defender a empresa nas redes sociais. Por que será? Devem ser patriotas na batalha pelo crescimento das Alagoas. Não enganam ninguém, mas a contrapartida certamente compensa o vexame inominável de vender até suas “convicções”.

As pessoas perdem suas casas; abandonam o que construíram, na base do suor, do trabalho duro, com a determinação de viver com dignidade. Merecem respeito e a máxima dedicação do poder público pra que elas recuperem o que têm direito. Os lucros estratosféricos da Braskem são suficientes pra isso. O valor estimado até agora é um troco para esses “liberais da meritocracia”. Chega de papo furado. A Braskem tem de pagar a conta pela atuação deletéria a tantas famílias.

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