De Salgema a Braskem, história da empresa em Alagoas é controversa desde a origem

11/05/2019 00:16 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Nos anos 70 do século passado, quando aquela indústria se instalou à beira-mar de Maceió, a Braskem de hoje se chamava Salgema. Chegou por aqui ainda nos tempos do “milagre econômico”, termo usado pela ditadura para exaltar os feitos do regime. Desde a inauguração, uma controvérsia colou para sempre na história da empresa: a localização foi um erro inaceitável, verdadeiro gesto de sabotagem contra a cidade. Toda uma região foi como que marginalizada pelo vizinho sujeira.

Ao longo de quatro décadas, sem exagero, ouvimos uma narrativa consagrada em Maceió: a instalação da Salgema matou o litoral sul da capital. Afugentou todo o tipo de investimento a partir da praia da Avenida até o Pontal. Para usar um termo hoje na moda, no meio do paraíso o monstrengo sempre foi uma presença “tóxica”. Essa imagem persegue a empresa desde os primórdios.

Pelo fim dos anos 80 e começo da década de 1990, o marketing da Salgema aposta no “cinturão verde”, um negócio que até hoje está por lá. Seria uma espécie de proteção à natureza, potencialmente devastada pela intervenção no Pontal da Barra. A cada temporada, o departamento comercial e a assessoria de imprensa se acertam na divulgação das ações “preventivas”.

Uma dessas ações é a simulação de uma grande explosão nas instalações da Braskem, com feridos tanto dentro da empresa quanto entre os moradores dos arredores. Até onde sei, esse evento ocorre anualmente e mobiliza dezenas de pessoas que atuam como se fossem atores. A atividade é uma mão na roda para o jornalismo de TV, sempre desesperado por agito, correria e... simulação.

Nesses mais de 40 anos de exploração do solo alagoano pela Braskem, nunca houve um acidente nas proporções em que o treinamento simula. Mas também é verdade que houve, ao longo das décadas, casos de explosões em maquinário, turbinas e tanques, que resultaram em mortes. Nessas ocasiões, aliás, a empresa nunca ajudava muito em termos de transparência com os fatos.

Voltando ao impacto que a Salgema provocou naquela parte de Maceió, a praia da Avenida, a mais bonita e badalada da capital até meados dos 70, perdeu essa primazia e foi praticamente esquecida. O aparato oficial nem considera aquele trecho do litoral digno de uma rápida visita de turistas. Hotéis e pousadas correram do pedaço e se instalaram no circuito Pajuçara/Ponta Verde/Jatiúca.   

Ainda sobre acidentes, reais e imaginários: a ironia é que, enquanto a Braskem fazia propaganda de sua política de prevenção a tragédias – com “espetáculos midiáticos” no entorno da empresa –, a verdadeira tragédia corroía o futuro de milhares de moradores do outro lado de Maceió. Sem alarde nem fumaça, as escavações minaram a estrutura de prédios e casas e levaram vidas ao abismo.

No meio do barulhento caso de agora, com repercussão fortemente negativa para e empresa – como nunca houve –, volta-se a falar no fechamento da Braskem em Alagoas. Definitivamente, não é o que está em pauta; não porque se deva defender a indústria, mas porque em nada ajuda no principal: uma solução para os moradores. Sem perda de tempo, é aí que devemos todos nos concentrar.

Recorrer ao clichê pra classificar de “amor e ódio” o tipo de relação dos alagoanos com a Braskem é um exagero – por causa do “amor”. Alguns defendem que se trata de uma potência da economia, essencial ao estado. Tenho dúvidas, mas, reitero, não estamos num debate sobre macroeconomia brasileira. O ponto a ser atacado em relação ao Pinheiro é viabilizar o recomeço pra seus habitantes.

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