“Fora Braskem! Fora Braskem! Fora Braskem!”

09/05/2019 00:41 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Finalmente saiu o tão esperado laudo sobre o bairro do Pinheiro. E, como parecia claríssimo para noventa e nove por cento dos habitantes de Maceió e de Alagoas inteira, o grande vilão é mesmo a Braskem. Falando claro – mas baseado no que ouvimos dos técnicos na audiência pública desta quarta-feira –, a exploração do solo durante décadas foi determinante para essa tragédia.

A palavra de ordem que está no título do texto foi gritada no auditório onde o laudo foi apresentado, na sede da Justiça Federal, no bairro da Serraria. Quando uma das autoridades em Geologia confirmou a principal causa do afundamento do Pinheiro, dezenas de moradores que acompanhavam o anúncio soltaram a voz: “Fora Braskem! Fora Braskem! Fora Braskem”!

A reação das famílias que agora vivem uma situação dramática traduz da melhor maneira o tamanho do problema. Os gritos contra a empresa na verdade são uma vigorosa cobrança por uma solução pra valer – séria, adequada e o mais rápido possível. Nesse sentido, o papel do Ministério Público e da Defensoria Pública é crucial. Até agora, me parece, as instituições agem da maneira que deve ser.

Se a coisa for bater no Judiciário – o que é quase uma certeza absoluta –, que o andamento de eventual ação se dê segundo os interesses da população. Mas, antes disso, a prefeitura e o governo estadual precisam fazer muito mais do que fizeram até hoje. Ao longo dos últimos dozes meses, a troca de farpas entre secretários dos dois lados foi uma estupidez recorrente. É muita falta de noção.

O governador Renan Filho e o prefeito Rui Palmeira devem zelar para que a trivial patifaria da miudeza política não envenene o trabalho a ser feito. Para isso, entre outras coisas, devem conter os impulsos de seus entornos, sempre contaminados por um ou outro mais depravado no drible a parâmetros éticos. Os senhores serão cobrados pelo modo como agirem. Prova de fogo é isso aí.

Antes mesmo da divulgação do laudo visto como conclusivo e, tudo indica, definitivo, Defensoria e MPE já haviam recorrido à Justiça para bloquear 6,7 bilhões de reais da empresa. Se não me engano, até agora isso não se consolidou. É apenas uma primeira etapa em termos de decisões judiciais envolvendo valores para indenização. A multinacional não quer nem ouvir falar nisso.

A direção da Braskem se manifestou, a meu ver, de modo enviesado. Foi pouco transparente e deixou uma mensagem bastante discutível em palavras cheias de ambuiguidade. Pela voz do vice-presidente Marcelo Cerqueira, pode-se deduzir que a indústria vai contestar formalmente o laudo que a condena. Ainda que seja uma postura previsível, não deixa de causar alguma perplexidade.

Digo isso porque, ainda que seja falante, o vice da Braskem reitera uma única ideia, central e definitiva para os interesses da empresa: estamos à disposição... Mas esse laudo aí não é bem assim. O homem fala em retorno dos moradores aos imóveis com uma singeleza que não combina com a realidade objetiva. Como voltar para ruas abertas ao meio e prédios sob ameaça de desabamento?  

Ressalto também os vários depoimentos de moradores que vi pela TV. Estavam usando camisa preta com palavras de incentivo à mobilização e com cobrança de solução do problema. Declarações que saem do trololó oportunista ou cheio de platitudes de um bocado de gente por aí. São vozes que precisam ser mais ouvidas, sobretudo pelas instituições que trabalham com poder de fogo.

Ter de abandonar a casa – assim como ocorre com essas pessoas – marca a sua alma, disse uma moradora do Pinheiro numa entrevista à TV Gazeta. Não é carnaval pra cima da Braskem, não é pressão indevida. O fato é que temos um laudo científico cuja conclusão é cristalina, com dados elucidativos. E temos, na contramão, uma gigante transnacional no ensaio de uma farsa. Olho neles!

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