Jornalista da TV Gazeta dá “puxão de orelhas em pessoas mal-educadas”! Era o que faltava

25/04/2019 16:17 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

O jornalismo da TV Gazeta decidiu enquadrar a população que mora na região conhecida como Dique Estrada, às margens da lagoa Mundaú, em Maceió. Nesta quinta-feira, durante o AL-1, telejornal da afiliada da Globo em Alagoas, a apresentadora Thaíse Cavalcante mandou a população deixar de ser “mal-educada”. A jornalista foi contundente em sua crítica ao povo da beira da lagoa – que até hoje não apreendeu a ter bons modos e etiqueta. Esse povinho não tem jeito!  

Exibindo imagens de máquinas da prefeitura fazendo limpeza na região, a moça leu um texto que tem toda a cara de release, ou seja, material produzido pela assessoria de imprensa do município. Segundo as informações reproduzidas pela TV, a prefeitura trabalha pra danar na manutenção da orla lagunar da capital. A cada semana, toneladas e toneladas de entulho são retiradas. Mas não adianta. Com essa gentinha deseducada, diz a Thaíse, a ação é o mesmo que “enxugar gelo”.

Confiram a seguir o comentário da “âncora” sobre as famílias que vivem nessa parte de Maceió. Ela começa sua aula sobre educação e bons costumes com um aviso sensacional: os moradores que se comportam direito, digamos assim, são uma “exceção”. Com autoridade, fala a apresentadora:  

Esse trabalho de limpeza na orla lagunar parece um trabalho de enxugar gelo. Quando a gente cita essa população, a gente sabe que tem as exceções. Mas não adianta a população da orla lagunar apenas cobrar da prefeitura. Porque enquanto se cobra a limpeza e o papel da prefeitura, enquanto se cobra isso, o restante da cidade cobra mais educação de quem mora nessa região, mais consciência ambiental. Fica aí o alerta e o puxão de orelhas para pessoas mal-educadas.

Mais claro, impossível. Informa ainda a TV Gazeta que, segundo a prefeitura, ações de retirada de lixo na orla lagunar, “principalmente no trecho do Dique Estrada, são feitas todos os dias”. Digo eu: isso é uma mentira completa. Todo tipo de entulho se acumula por semanas, sem que haja nenhuma providência oficial. Quando a coisa chega a níveis absurdos, aí sim, aparecem homens e caçambas. (Ando por essas bandas desde antigamente, antes mesmo de existir o Dique Estrada. Sei o que falo).

A realidade que “jornalistas globais” pensam conhecer só existe nas marmotas fabricadas justamente pelo jornalismo televisivo. Os antenados repórteres que “mostram os problemas” nas periferias se referem aos bairros da cidade como se fossem parte de outro planeta. Mal conseguem combinar verbo e predicado, e se acham no direito de ditar regras de conduta. Oi! Alô! É sério isso?!

Gostei particularmente deste trecho na enquadrada que a jornalista dá na gentalha da orla lagunar: “O restante da cidade cobra mais educação de quem mora nessa região”. Caramba! Eu não sabia que os milhares de pessoas aqui ao meu redor estavam tão longe da civilização que vemos em todo “o restante da cidade”. E agora? É esperar nova lição de cidadania do jornalismo global-gazeteano.

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