O “jornalismo” contra os trabalhadores

11/04/2019 13:26 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Sempre atrasado em relação ao ritmo da vida real, o jornalismo da TV Gazeta, filiada à Rede Globo, mostra espanto diante de camelôs e ambulantes nas ruas do centro de Maceió. Segundo o texto da reportagem no ALTV1 desta quinta-feira 11/04, os calçadões do comércio central da capital “voltaram a ser ocupados por ambulantes – até com vendedores de peixe”. E isso começou agora, foi?

Bom, que eu saiba, esse comércio informal está por ali há pelo menos uns dois anos, desde a última “ocupação”. Com bastante frequência, ando por aquelas bandas. Como já escrevi aqui, ao contrário do que diz a TV Gazeta sobre os consumidores que vão ao Centro, não vejo incômodo nenhum com a presença desses batalhadores. Aliás, acho que a paisagem fica mais vibrante com essa diversidade.

A apresentadora do telejornal parece incomodada. A jovem chamou a situação vista na reportagem de “novela mexicana do ordenamento do centro de Maceió”. Descontando a originalidade na comparação, percebe-se o engajamento da TV Gazeta em pressionar a prefeitura a resolver o “problema”. Ao vivo, no estúdio, um secretário municipal foi praticamente linchado pela “âncora”.

A investida da TV Gazeta sobre os trabalhadores que vendem suas mercadorias em carrinhos e bancas pelas ruas contou ainda com o depoimento do presidente da Aliança Comercial de Maceió, Guido Junior. Segundo ele, “a confusão” dos vendedores ao ar livre “espanta os clientes das lojas”. Na melhor das hipóteses, é uma meia verdade. Testemunha ocular do quadro, não vejo isso.

Para quem conhece um pouco como funcionam certas coisas na imprensa, digo com convicção o seguinte: essa pauta do ALTV certamente não teve origem na redação. Aposto que foi uma demanda do departamento comercial, preocupado em dar uma força aos grandes lojistas – e isso por uma razão elementar: empresários são anunciantes. Essa é a preocupação do jornalismo de ficção.

Espero que a Prefeitura de Maceió não embarque na campanha de caça aos trabalhadores do Centro – como defendem a TV e seus parceiros comerciais. Quando isso ocorre, a única coisa que temos é o uso da força bruta, como tantas vezes já ocorreu. Sugiro que os órgãos oficiais invistam energia em combater ilegalidades de outros patamares, como sonegação de IPTU e outros impostos municipais.

Agora vou dar uma volta entre a Senador Mendonça, a Moreira Lima, a Boa Vista e a rua do Sol, entre outras. Tem sempre um caldo de cana para refrescar enquanto você observa o vai e vem de humanos de todos os tipos. Aproveitando o passeio, talvez garanta um quilo de macaxeira, para o café, e algumas frutas, para a sobremesa. A variedade é um dos pontos fortes naquele comércio.

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