A comédia brasileira e a nova política

18/03/2019 15:06 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

1. Novos governadores, eleitos em 2018, fizeram campanha pregando mudança radical nas práticas políticas. Mas, como revelou a Folha de S. Paulo, a revolução que prometiam acabou no dia da posse e nas primeiras nomeações para os cargos de confiança. De norte a sul, é uma farra familiar à altura dos piores padrões da vida pública no Brasil. A reportagem da Folha mostra que os mais vorazes são justamente nomes do PSL, partido veio ao mundo para inaugurar no Brasil o paraíso da ética.      

2. Nossa imprensa informa que está sendo criado na Assembleia Legislativa um troço chamado Frente pela Liberdade, de inspiração “liberal”. Segundo dizem os mentores, a ideia é propor projetos na contramão da ideologia de esquerda. Fazem parte do grupo, entre outros, os deputados Davi Maia, Bruno Toledo e Cabo Bebeto – três bolsonaristas caetés. Uma das brilhantes pautas da Frente deve ser o apoio ao armamento da população. A tara por uma pistola nunca foi tão badalada.

Suponho que a frente liberal da Assembleia também deve propor iniciativas de combate ao perigo do comunismo. Para missão tão relevante, deve contar com o apoio de setores católicos e evangélicos. Entre uma oração e outra, a prioridade é a guerra à ameaça vermelha que assombra a seita liderada por Bolsonaro. Aliás, é o que o presidente está fazendo nos Estados Unidos.

3. Eduardo Bolsonaro, um dos trombadinhas criados pelo presidente, disse que brasileiros ilegais nos Estados Unidos “envergonham” o Brasil. Como se sabe, para o ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodriguez, somos um bando de “canibais” e “ladrões”. Ou seja, o novo governo tem um conceito bastante elevado do povo que o elegeu. É a tradução perfeita do pensamento dessa gang.

4. Na passagem pelos Estados Unidos, Bolsonaro e o filho Eduardo foram conhecer a CIA, a agência americana de espionagem. O ministro Sergio Moro também acompanhou o chefe. Detalhe: a turma manteve a visita fora da agenda oficial, ao que parece numa tentativa de esconder a presepada. Certamente o Brasil tem muito a ganhar com as técnicas de arapongas que fuçam a vida de todos.

5. Na onda de fanatismo dos bolsonaristas, o senador Major Olímpio apresentou uma ideia e tanto para prevenir massacres como o que houve na escola de Suzano, em São Paulo: uma arma para cada professor. É uma iniciativa pueril, burra e ofensiva, diante da tragédia que destroçou tantas famílias. Mas nada que surpreenda. A mentalidade dos atuais donos do poder não vai além disso daí.

6. A nova secretária-executiva do Ministério da Educação, Iolene Lima, já disse a que veio. A número dois do MEC pensa o seguinte sobre políticas públicas para o ensino de milhões de estudantes: “O aluno aprende que o autor da História é Deus. O realizador da Geografia é Deus. Deus fez os relevos, fez o clima. O maior matemático é Deus”. Muito bom! Os cristãos da direita criacionista, que rezam no catecismo da cruz e da bala, estão vibrando com essa pedagogia baseada no sobrenatural.

7. Estou ansioso pra ver o bolsonarismo em ação por aqui. Onde estão a turma do PSL e seus aliados nas Câmaras Municipais e na Assembleia Legislativa? Ninguém ainda propôs que o governo estadual contrate snipers para agir nas periferias? Ninguém ainda defendeu o canto do Hino de Alagoas nas escolas, creches e redações? Assim tá muito sem graça. Tem de turbinar a comédia.

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