Bolsonaro, Carnaval e novela

09/03/2019 01:17 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

São muitos os temas dos últimos dias sobre os quais não escrevi ainda, mas sobre os quais ainda posso escrever, a qualquer hora, para, quando menos, registrar uma opinião, um modo de ver as coisas – alguma palavra para além, digamos assim, da superfície factual. Sendo inevitável, o cerco da realidade, integralmente cerrado nas 24 horas de um dia, sugere pautas que ou não ajudam muito ou desafiam demais. Entre uma impressão e outra, vamos do jogo do poder ao bloco carnavalesco.

Para entrar nos debates que invadem a imprensa e a internet, teria de escrever, logo na largada, sobre Bolsonaro e seu mais novo ato de exibicionismo de um caráter indecente. O mundialmente famoso vídeo do Carnaval divulgado pelo presidente da República apenas reafirma o que é notório desde sempre. Sobre o ritual que para o país anualmente, a leitura de Carnavais, Malandros e Heróis, de Roberto DaMatta, continua lição valiosa – e original – pra entender o fenômeno brasileiríssimo.

Antes de mais uma crise no âmbito da política – essa crise do presidente pornográfico durante o Carnaval –, o país quase parou com a descoberta do caso Marina Rui Barbosa & José Loreto. O tanto de material produzido pela imprensa oferece algo valioso para quem pretenda investigar a fundo as relações afetivas, hoje inapelavelmente subordinadas ao redemoinho de pensamentos envenenados das redes sociais. Traições, mentiras e todo o tipo de golpe baixo eletrizam o povaréu.

Pelo que vi de longe, Jesus Cristo tomou uma tremenda sova do Capeta – em espetáculo visto por um público formado por milhões de pessoas em todo o Brasil. Acho que foi a escola de samba Gaviões da Fiel que teve a ideia de encenar o duelo durante o desfile na avenida paulistana. Tem gente espumando de ódio até hoje. Salvo engano, um deputado alagoano propõe nota de repúdio por considerar o desfile da escola uma agressão aos valores da família cristã. Besteirol oco e tedioso.

As manifestações do presidente Bolsonaro pelas redes sociais cavam o esgoto cada vez mais fundo.  Especula-se por aí se tal comportamento não se trata na verdade de uma estratégia. Mantendo na ordem do dia as demandas escatológicas de sua mente desordeira, o capitão distrai a turba, que assim deixa de lado o que realmente interessa ao país. No terceiro mês de gestão, o governo inexiste – a não ser na produção de vexames por parte do presidente e ministros prontinhos para o hospício.

O presidente também resolveu disputar prestígio com Caetano Veloso e Daniela Mercury.  Incomodado com a música Proibido o Carnaval, Bolsonaro foi ao Twitter, claro, para repetir a velha acusação de uso ilegal da Lei Rouanet. Imediatamente, retardados que o idolatram nas redes passaram a repetir a pilantragem intelectual. Ou seja, bisonhamente o homem tenta o impossível: elevar-se acima de um rito nacional (a festa) e de uma lenda viva da cultura brasileira, Caetano.

Uma das versões correntes sobre o Brasil de agora garante que os militares tomaram conta do governo pra valer. Quem manda são eles. Os generais toleram as manifestações indecorosas do presidente porque, afinal, sabem que isso não tem cura mesmo. O sujeito é apenas um ser do baixo clero, eternamente. Sendo assim, a vulgaridade será o padrão permanente, em atos e palavras, de Bolsonaro e dos filhos trombadinhas. Reformas, propostas e projetos ao país, nada disso daí!

(Com bastante exagero, digamos que falei de quase tudo e quase nada. Temas e aspectos do texto podem ser abordados em posts específicos. E ainda tem a fala de Bolsonaro sobre democracia e as vontades das Forças Armadas. O drama que envolve Marina Rui Barbosa e Débora Nascimento também mereceria análise mais demorada. É a História em nossa frente, ao vivo!).

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