Campanha do Conselho de Psicologia sobre drogas é arrojada e correta. Parabéns!

25/02/2019 23:48 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

O mundo é careta. A ordem é reacionária. O pensamento dominante é atrasado. Não importa o tipo de ideologia, não importa o credo religioso, não interessa a seita que arraste fanáticos para este ou aquele sistema de crendices – o que prevalece é o mais tacanho obscurantismo, um pântano brutalmente hostil a tudo o que possa lembrar um pingo de vida inteligente. Como canta o maldito Jards Macalé, num clássico instantâneo que ele acaba de jogar na praça: Chegamos ao limite da água mais funda. Trevas!. Foi isso o que pensei após o caso do panfleto sobre uso de drogas.

Nas redes sociais, o Conselho Regional de Psicologia de Alagoas entrou na mira dos snipers que defendem os valores da família e da pátria. Tudo por causa de um panfleto produzido pela Comissão de Direitos Humanos do CRP-AL. O material orienta como usar de maneira segura substâncias ilícitas – maconha, cocaína e LSD, por exemplo. Os cidadãos de bem tiveram um ataque de nervos!

Na verdade, a reação foi histérica. O trabalho de profissionais foi tratado com termos chulos, depravados, de baixíssimo calão – perfeitamente de acordo com o nível mental dos senhores que se acham o suprassumo dos bons costumes. É o tipo de postura que alia ignorância, preconceito e violência. O ódio destilado contra a iniciativa do Conselho também esconde boa dose de hipocrisia.

É bom lembrar que o CRP-AL não inventou nada. Esse tipo de abordagem – que acertadamente aposta na informação transparente – está longe do ineditismo. Mundo afora, várias campanhas ensinam, sim, como usar de modo seguro – com intenções recreativas – algum tipo de droga proibida por lei. Isso não é incentivo ao consumo, como falsificam os detratores da campanha.

O mundo perdeu a “guerra contra as drogas”. Só os idiotas e os cretinos não admitem. A repressão jamais, em tempo algum, em lugar nenhum do planeta, arrefeceu a curtição de um baseado, a viagem numa carreira de pó, a vertigem num comprimido colorido, a visita a outras dimensões depois de um copo de chá... A lista é imensa. Mas continuamos o mesmo combate – burro e inútil.

O discurso vagabundo de “combate sem tréguas” ao tráfico de drogas tem como única serventia aparecer em slogan de desqualificados da política. A segurança pública nessa área é pura ficção. A cada espetáculo de quilos de maconha incinerados, toneladas e toneladas abastecem o mercado – pra ficar no produto mais básico. A piada harmoniza governos, traficantes e a sociedade.       

O que eu penso da campanha do Conselho de Psicologia para orientar foliões no carnaval? Parabenizo pelo arrojo e pela corajosa iniciativa – e espero que os profissionais responsáveis pela campanha não recuem, não se deixem intimidar pelas trombetas dos que só conhecem a linguagem do pega pra capar. Enfrentar tradições, por mais bisonhas que sejam, sempre será arriscado.

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