Laranjal é a prova de fraude na eleição 2018
O festival de candidaturas de fachada nas eleições de 2018 deixa uma lição definitiva: as regras do processo eleitoral foram miseravelmente desmoralizadas – mais uma vez. E olhe que a disputa do ano passado ocorreu sob uma legislação teoricamente mais rigorosa com o uso de verba pública. A retórica das autoridades, sobretudo de ministros do TSE, era de que tudo iria ocorrer dentro de parâmetros rígidos, com muito mais transparência. Sabe-se agora que não foi assim.
Foi tudo ao contrário. Pelo visto, todos os partidos – e não apenas o PSL de Jair Bolsonaro – driblaram as regras do jogo de maneira criminosa. Todos os dias a imprensa traz novos exemplos de que o laranjal de candidaturas foi o maior fenômeno eleitoral de 2018. A cota para mulheres deve ser a obrigatoriedade mais violada na história das eleições brasileiras. As legendas forjaram concorrentes que receberam fortunas para campanhas que simplesmente nunca existiram pra valer.
O saldo atesta que, em boa medida, portanto, há uma multidão de eleitos sob suspeita. O caso do ministro Marcelo Álvaro Antônio (Turismo) é apenas o de maior repercussão, dada a visibilidade do personagem. Mas não faltam situações idênticas pelo país afora. Sempre atentos às oportunidades para se dar bem pelos caminhos mais fáceis, é claro que políticos e legendas iriam recorrer ao “mecanismo” dos laranjas. Diante dos esquemas já revelados, a coleção de explicações é descarada.
Sobrou justamente para a suposta camisa de força da cota feminina. Os caciques partidários reclamam da exigência de 30% das vagas para garotas e senhoras. O deputado Luciano Bivar, presidente nacional do PSL, foi o mais cínico ao apelar para esse “problema” como justificativa à safadeza. Segundo esse homem público exemplar, mulher não tem vocação para a política. O que deveria fortalecer a diversidade na representação partidária acabou sendo usado para burlar a lei.
Apesar de todos os casos que a imprensa já trouxe a público, não vi ninguém defender alguma forma de combater a pilantragem nas eleições municipais do ano que vem. Sim, porque se nada for modificado, a safra de laranjas tende a explodir em 2020. Fico pensando se a Justiça Eleitoral vai ficar assistindo a todo esse escândalo, sem apontar para nenhuma solução. Desse jeito não pode ficar.
A presepada é pedagógica também em outro aspecto crucial: fica provado, uma vez mais, a distância entre a discurseira engalanada dos doutores togados e a vida concreta. Quem não lembra de Luiz Fux, Carmen Lúcia e outros, cheios de empáfia, dando garantias de que teríamos eleições limpas no ano que passou! Diziam que o TSE seria implacável no combate a malfeitores da urna.
Era tudo balela. Vivendo numa dimensão estranha ao Brasil real, esses vultos da República foram engolidos pelos fatos do mundo verdadeiro. É o que sempre acontece. Quanto mais badulaques e balangandãs na retórica extravagante, maior o vexame diante do preto no branco. É insofismável que as eleições foram fraudadas em níveis pantagruélicos. Tem de mudar tudo para 2020.
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